Não esperava muito do show da dupla norueguesa Kings of Convenience no Circo Voador. A banda atualiza o som de Simon & Garfunkel com leves pitadas de bossa nova. Usam bem o contraponto silêncio/barulho (mas bem diferente do Pixies, que faz barulho de verdade) e fazem um som intenso, apesar de minimalista (são somente dois violões ao vivo - mas que se bastam!). O evento veio cercado de uma aura de apreensão. O show anterior em São Paulo tinha causado polêmica pelas exigências um tanto insólitas da banda para um concerto de rock, pop ou qualquer coisa que o valha tocada por pessoas de cerca de 35 anos. "Proibir" o funcionamento do bar durante o show ou qualquer tipo de conversa durante as músicas estavam estre as "demandas" dos rapazes.
Neste aspecto, talvez o Circo não fosse o melhor palco para os caras - mas para este fim simplesmente continua sendo inevitalmente soberano, ainda mais tendo como coadjuvantes os Arcos e a Catedral. Adicionalmente, com o fechamento do Canecão e o crescente movimento do crowdfunding, a inexistência de opções viáveis na Zona Sul levou o Circo ao topo do pódio, infelizmente sem concorrentes. É verdade que a Lapa, também renascida nos últimos anos, reverberava sons diferentes que desviavam por diversas vezes nossa atenção aos dois violões da banda.
Entretanto, o público é que estava irreconhecível. Mais chato que a pretensa chatice da banda. Ao ponto de uma figura na minha frente ter pedido que eu fosse falar no bar quando eu comentava com a galera que um dos violões era de aço e o outro de nylon - nerdices básicas que adoçam os shows - e duas atrás de mim terem pedido pra eu deslocar a cabeça para que elas vissem o tal "gatinho moreno", porque o ruivo quase clone do Andy Dick devia estar gazelando demais pra despertar qualquer reação diferente de estranheza nas meninas.
O fato é que toda esta preocupação acabou gerando uma grande cumplicidade entre o público e a dupla, que parecia extasiada com a platéia. Os refrões eram cantados em uníssono, bem como os corinhos. Os pedidos de silêncio (do imperativo "to hush", com tradução difícil no português e que no inglês lembra convenientemente sua onomatopéia), as coreografias de palmas trocando as semínimas pela semibreve (intencionalmente aumentando as pausas entre os tempos para reforçar o silêncio) e os estalos de dedos ao invés das palmas ("snaps instead of claps" - no inglês parecem irmãos) foram de fato fundamentais ajudando a criar o clima intimista que a banda queria (e que o próprio público parecia querer muito também!).
A banda da cidade portuária de Bergen ganhou mais um fã. Assim como o Rio, que resgatou aquele que quase tinha perdido há alguns anos...