sábado, junho 06, 2015

Dez coisas que reaprendi com Sol Invictus

1. Você só vai entender depois de algum tempo. "Motherfucker" pareceu pouco interessante na primeira audição em Novembro do ano passado. Diferentemente de um primeiro single, aquele que geralmente chama a sua atenção o suficiente para que você compre o álbum, na verdade tratava-se daquele pedaço de um quebra-cabeça que você não consegue reconhecer onde colocar, mas quando o quebra-cabeça está quase finalizado, você não entende como não tinha percebido antes o seu lugar correto. De fato, o manifesto "Motherfucker" cai como uma luva depois do protesto esquizofrênico de "Black Friday" e a delicadeza sólida de "Matador".

2. Não tenha medo de pedir ajuda. Billy Gould, o baixista da banda, já havia co-produzido o último álbum da banda antes do hiato de 18 anos e resolveu desta vez assumir a função de produtor. Concordo que algumas vezes a liberdade criativa é mais importante que o tecnicismo do registro, mas não creio que a banda tenha tido problemas com produtores no passado e a sonoridade deste disco deixa ligeiramente a desejar, se comparado com Angel Dust - em especial no baixo de Gould. Talvez a banda tenha percebido isso chamando o próprio Andy Wallace, produtor de Angel Dust, para mixar o álbum, mas aí já era tarde demais.

3. Algumas coisas melhoram com a idade. Ano passado, a revista americana Spin divulgou um estudo onde Mike Patton aparecia como o vocalista "pop" com o maior alcance vocal: seis oitavas contra as cinco oitavas do destronado Axl Rose, cuja voz só piora ao longo dos anos. Neste álbum Patton está cantando melhor do que nunca, contrariando a natureza.

4. A roupa não faz o homem, mas ajuda bastante. No final de 2011, quando a banda apresentou sua primeira composição inédita em 14 anos, "Matador" parecia promissora, mas faltava um banho de loja. A gravação em estúdio deu-lhe o que mais precisava: a dinâmica, para ressaltar sua leveza inicial em contraponto ao seu peso hipnótico.

5. Cala-te ou fala algo que valha mais do que o silêncio. As colagens geniais e ácidas da loucura no cotidiano que nos hipnotizaram em Angel Dust estão de volta. Patton consegue em uma frase ser melhor que algumas bandas em suas carreiras inteiras.

6. Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás. A sonoridade das novas canções mostram uma banda que está ao mesmo tempo mais pesada e mais suave. Talvez os Pixies tenham inaugurado esse capítulo no Rock, mas certamente o Faith No More continua aperfeiçoando a fórmula.

7. Deixe um gostinho de quero mais. Os álbuns até o final da década de 80 normalmente tinham por volta de quarenta minutos - o limite técnico do vinil. Na virada da década, as bandas naturalmente ficaram seduzidas pela duração dobrada do CD e resolveram aumentar substancialmente a duração dos seus álbuns. Hoje o vinil está de volta, o CD foi praticamente sepultado e Sol Invictus tem a menor duração dentre os álbuns da era Patton. O fato é talvez propositalmente ele acaba rápido e isso não é exatamente ruim.

8. Dê mais uma chance para quem te fez feliz um dia. Aquele caso clássico do álbum que você começa a ouvir e não te conquista de primeira. Os amigos também começam a dizer que a banda não é mais a mesma, o mesmo blá blá blá de sempre. Você resolve ouvir os discos antigos e pensa: "sim, aquilo é que era bom de verdade", mas é só questão de tempo. Você vai acabar gostando - ou não.

9. Se resolver voltar, que seja de bom grado. Uma das minhas bandas favoritas resolveu voltar em 2004, mas lançou um disco com inéditas no ano passado que sinceramente - e infelizmente - não disse a que veio. Além do Pixies desde então ter passado por algumas mudanças de formação, o vocalista Black Francis quase sempre parece mal humorado nos shows, diferentemente do Faith No More, que tem demonstrado um astral muito legal desde o retorno da banda em 2009. Certamente essa harmonia está refletida em Sol Invictus.

10. Não julgue um livro pela capa. Os boatos iniciais sobre o álbum diziam que a banda mesclaria sons góticos à sua costumeira miscelânea musical. A foto acima, lançada no início do ano como um teaser do álbum, reforçava este fato, mas na prática as tais referências estão muito sutis, para não dizer nulas. Além disso, apesar da banda não se notabilizar por capas de álbuns memoráveis, esta é, de longe, a pior da história do Faith No More.

domingo, novembro 02, 2014

Autoajuda nos anos 80 - ou para sempre?


Recém lançado, o documentário "Soul Boys Of The Western World", sobre a trajetória do Spandau Ballet, definitivamente vale um confere. A primeira metade por si só já é imperdível: um retrato primoroso da cena musical londrina do final da década de 70. A segunda metade talvez só interesse aos fãs mais ardorosos, mas independentemente disso, é digna de nota a qualidade dos registros visuais da banda desde o início da carreira, formando uma delicada colcha de retalhos que explicam bastante bem os motivos razoavelmente pouco usuais pelos quais a banda terminou e depois acabou resolvendo voltar.

Outro bom motivo para assistir é testemunhar como a banda, que sempre esteve no meio de outros métiers de arte e moda, foi parte integrante dos movimentos culturais daquela época e que, juntamente com as bandas pós-punk e o levante musical e fashionista do Punk, ajudaram a criar um sólido movimento cultural rivalizando com a Swinging London, o que também explica o extremo cuidado com o figurino bufante quase teatral do Spandau Ballet naquela época.

A autoajuda, na verdade, vem de "Gold", um dos maiores sucessos da carreira dos londrinos, que retrata uma tônica literária contrária a da maioria das bandas do início da década de 80, que preferiam trazer em suas letras temas mais existenciais e soturnos. Ao fechar o filme tocando esta canção para uma imensa platéia num festival, após a reconciliação no final da década passada, fica claro que o significado da frase "always believe in your soul" talvez seja até maior para eles mesmos do que para nós.

domingo, agosto 17, 2014

A história não oficial de Lasso

Desde o show do Phoenix no Lollapalooza Chile (cuja resenha fiz com exclusividade para o FANZ, portal de notícias sobre cultura do irmão Marcos Araújo), eu tenho ouvido meio compulsivamente essa música do quarto álbum deles, "Wolfgang Amadeus Phoenix", lançado em 2009. De longe, a melhor do disco, mas o que me traz aqui não é a música em si, e sim, o seu título.

Eu sempre tendo a analisar as coisas e buscar explicações razoáveis para tudo, e o título dessa música sempre me intrigava, mas nunca me instigava a buscar o seu significado. Eu até já tinha prestado mais atenção nas letras pra ver se elas me davam alguma dica, mas eu não conseguia ligar os pontos.

Hoje eu resolvi "googlar" esse título e acabar com essa miniangústia. Lasso pode ser várias coisas. Dentre elas, além da tal música da banda francesa, uma linguagem de programação e um herbicida. Mas também é um método de regressão linear que na mesma hora acabei lembrando de ter estudado nas aulas de estatística aplicada.

A questão intrigante é que, enquanto eu não procurava "a resposta certa", eu só pensava em Lassi (e não na Lassie, a cadela da série televisiva), uma bebida tipicamente indiana a base de iogurte e especiarias. Até hoje sinto saudade daquele mango lassi que tomei há uns dez anos atrás num restaurante "qualquer" da Brick Lane, em Londres.

No final das contas, a verdade é que não existem respostas certas, mas que também as coisas geralmente são mais simples do que a gente pode imaginar.

Lasso é laço, minha gente.

Mas é claro que essa seria a última coisa na face da terra que eu imaginaria que fosse.

terça-feira, dezembro 24, 2013

A melhor música de todas e o sentido do Natal

Outro dia estava com uns amigos e me perguntaram qual seria a minha música favorita de todos os tempos. Sinceramente, poucas vezes me fizeram uma pergunta tão difícil de responder de bate-pronto. Obviamente, a pergunta ficou martelando a minha cabeça até que eu chegasse a uma conclusão.

A música é "A Forest", do The Cure. A letra é simples, mas quase confessional. A melodia é enigmática e energética. Foi gravada em 1980 e desde então suas versões ao vivo variam em dinâmica, intensidade e duração - indo dos 4 minutos regulamentares a mais de 15 minutos de pura catarse. Eu seria capaz de ouví-la ininterruptamente por um fim de semana inteiro. Apesar de conhecê-la desde 1987, só tive a oportunidade de ver seu vídeo uns dois ou três anos depois. Suas imagens inspiraram a contra-capa do single do Wonderland, uma árvore solarizada.

Mas o que isso tudo tem a ver com o Natal? Minha visão sobre a data é bastante particular e talvez simplória. Até o final da minha infância, era a noite em que eu tinha a chance eventual de ganhar algum presente bastante desejado, mas nada muito além disso no tocante ao significado do evento. Eu até troquei minha mamadeira no Natal de 1980 por uma bicicleta - sim, eu tomei mamadeira até praticamente os sete anos. Obviamente, naquela época já não era mais um leitinho insosso, e sim um café com leite que eu mesmo preparava e esquentava no fogão.

Logo depois disso, a coisa meio que perdeu o rumo, e eu passei a frequentar o Natal na casa de amigos. Rapidamente, comecei a associar a data com um frenesi consumista e o ato forçado de comprar presentes - tétrico e aprisionante. Entretanto, por outro lado, foi aí mesmo que acabei talvez entendendo melhor e apreciando o maior sentido da "festividade": estar com quem se gosta. De fato, a melhor família é aquela que você escolhe - seja ela de sangue ou não.

As histórias se conectam quando eu me lembro que numa das inúmeras vezes que fui a Poços de Caldas com um grande amigo (ou um irmão escolhido, como eu prefiro dizer), acabamos num show vespertino de uma banda cover e eu, um cara de pau que não pode ver um palco porque logo quer dar uma canja, resolvi pedir à banda no intervalo para cantar uma música. Estamos falando provavelmente de 1993 e perguntei se eles tocavam alguma do The Cure. Eles disseram que costumavam tocar "A Forest", que definitivamente não é um dos hits da banda. Subi, cantei a música numa performance memorável, mas temo que ele não vá se lembrar disso. Entretanto, da pergunta de outro dia, creio que sim.

Hoje à noite estaremos juntos, não porque pretensamente alguém nasceu ou porque precisemos seguir algum ritual. Simplesmente porque é muito bom celebrar a vida. Portanto, um obrigado muito carinhoso a todos vocês que de alguma maneira me ajudaram nessa tarefa, e que sempre nos lembremos, como diria um outro amigo, de que o tal "Natal" também deve acontecer nos outros 364 dias do ano, com gentileza, respeito e sobretudo, amor pelo próximo.

terça-feira, dezembro 13, 2011

O Rio está ficando sério...

Tenho ido ao Rio. Tenho gostado muito do Rio. Mas ontem fiquei com a impressão de que o Rio está se levando a sério demais. Será que a euforia com a diminuição da violência (que é negada parcialmente pela galera que manda os relatos da Zona Norte), a enxurrada de jovens turistas estrangeiros (ao que me lembro isso não era nem um pouco comum na minha juventude), a modernidade chegando (bicicletas comunitárias com cem pontos de coleta ao largo da cidade é chique demais!), entre outros efeitos, estão criando uma horda de pessoas que estão confundindo a nossa necessidade irrefutável e tardia de exercitar cidadania em mais altos níveis por uma pretensa arrogância?

Não esperava muito do show da dupla norueguesa Kings of Convenience no Circo Voador. A banda atualiza o som de Simon & Garfunkel com leves pitadas de bossa nova. Usam bem o contraponto silêncio/barulho (mas bem diferente do Pixies, que faz barulho de verdade) e fazem um som intenso, apesar de minimalista (são somente dois violões ao vivo - mas que se bastam!). O evento veio cercado de uma aura de apreensão. O show anterior em São Paulo tinha causado polêmica pelas exigências um tanto insólitas da banda para um concerto de rock, pop ou qualquer coisa que o valha tocada por pessoas de cerca de 35 anos. "Proibir" o funcionamento do bar durante o show ou qualquer tipo de conversa durante as músicas estavam estre as "demandas" dos rapazes.

Neste aspecto, talvez o Circo não fosse o melhor palco para os caras - mas para este fim simplesmente continua sendo inevitalmente soberano, ainda mais tendo como coadjuvantes os Arcos e a Catedral. Adicionalmente, com o fechamento do Canecão e o crescente movimento do crowdfunding, a inexistência de opções viáveis na Zona Sul levou o Circo ao topo do pódio, infelizmente sem concorrentes. É verdade que a Lapa, também renascida nos últimos anos, reverberava sons diferentes que desviavam por diversas vezes nossa atenção aos dois violões da banda.

Entretanto, o público é que estava irreconhecível. Mais chato que a pretensa chatice da banda. Ao ponto de uma figura na minha frente ter pedido que eu fosse falar no bar quando eu comentava com a galera que um dos violões era de aço e o outro de nylon - nerdices básicas que adoçam os shows - e duas atrás de mim terem pedido pra eu deslocar a cabeça para que elas vissem o tal "gatinho moreno", porque o ruivo quase clone do Andy Dick devia estar gazelando demais pra despertar qualquer reação diferente de estranheza nas meninas.

Eu, que frequento shows há mais de 25 anos com assiduidade, nunca tinha visto uma coisa tão patética. Claro que, do meio do show pra frente, indignado, resolvemos "trollar" a menina e quando finalmente o tal moreno resolveu tocar uma bossa, em três segundos de dedilhado eu já tinha bingado "um cantinho, um violau" (sic), pra tomar mais um shhh na cara e um minuto após tomar outro, depois de dizer "não falei que era Corcovado"? Além do mais, tenho minhas dúvidas se metade daquela galera já tinha ouvido o Getz/Gilberto, de 1964. Cada um com o seu isolamento e a sua veneração individualista, tão adversas do comportamento típico do carioca. Sinceramente, concertos entram na categoria de eventos catárticos, compartilhadores, agregadores; tais como aquele clássico "abraço suado" em um torcedor desconhecido, depois do gol (muitas vezes suado) aos 33 do segundo tempo.

O fato é que toda esta preocupação acabou gerando uma grande cumplicidade entre o público e a dupla, que parecia extasiada com a platéia. Os refrões eram cantados em uníssono, bem como os corinhos. Os pedidos de silêncio (do imperativo "to hush", com tradução difícil no português e que no inglês lembra convenientemente sua onomatopéia), as coreografias de palmas trocando as semínimas pela semibreve (intencionalmente aumentando as pausas entre os tempos para reforçar o silêncio) e os estalos de dedos ao invés das palmas ("snaps instead of claps" - no inglês parecem irmãos) foram de fato fundamentais ajudando a criar o clima intimista que a banda queria (e que o próprio público parecia querer muito também!).

A banda da cidade portuária de Bergen ganhou mais um fã. Assim como o Rio, que resgatou aquele que quase tinha perdido há alguns anos...

terça-feira, março 08, 2011

Top 5 de Carnaval

1. Caetano Veloso - Chão da Praça
2. Fito Paez - Tres Agujas
3. Kings of Leon - Sex On Fire
4. MGMT - Kids
5. Depeche Mode - Freelove

sábado, fevereiro 05, 2011

Top 5 da Última Semana

Nada muito novo... just the goldies oldies...

1. The Beatles - While My Guitar Gently Weeps
2. Faith No More - Just A Man
3. The Cure - The Hungry Ghost
4. Faith No More - Paths Of Glory
5. The Cure - Sleep When I'm Dead

domingo, setembro 12, 2010

Para um Amigo que foi pra Londres...

Quando o Guga me disse que ia pra Londres, na mesma hora pensei que ele devia fazer um intensivão de rock inglês... não que fosse fazer muita diferença, a cidade já não é mais como era na época dos punks e muito menos como devia ser em meados dos 80. Aliás, quando estive lá pela primeira vez em 98, já pude sentir que a música não parecia mais ser o nitrogênio que se respirava por lá, talvez o hélio e olhe lá...

Ainda assim, gravei um CD pra ele e não pude explicar as razões das inclusões das bandas e músicas, portanto, vamos lá:

1. The Clash, "London's Burning" (1977) Claro, começando pelo "começo". Clash na sua melhor forma punk e dizendo que a cidade está entediante - só pra nos forçar a provar o contrário, inclusive, tarefa esta bem pouco difícil!

2. Sex Pistols, "God Save The Queen" (1977) Mais punk na veia. Corruptela do Hino Nacional do Reino Unido, esse é o real hino dos punks. A frase "no future for you" sintetiza todo o desespero do final dos anos 70. "Anarchy In UK" é outro hit do único álbum deles, que também se tornou um clássico, ou seja, ao desembarcar, compre logo uma cópia do "Never Mind The Bollocks"...

3. Editors, "Papillon" (2009) Pra não deixar a peteca cair, avançamos 32 anos e passamos a algo mais contemporâneo. Essa banda faz a melhor releitura das bandas da cena dark inglesa dos anos 80. Simplesmente fantástica!

4. The Cure, "Sleep When I'm Dead" (2008) Top 2 da minha lista de bandas, carreira irretocável desde 78, que no último álbum voltou a respirar com força. Essa é uma das melhores deste ótimo álbum.

5. Arctic Monkeys, "Teddy Picker" (2006) Os queridinhos da crítica inglesa fazem um som bastante esperto com letras muito interessantes. Vale a pena investigar melhor!

6. Swing Out Sister, "Something Every Day" (2008) Uma banda que flerta bastante com a bossa nova e que coincidentemente tem se sustentado somente com o publico japonês, ávido consumidor deste estilo musical. Música pra ouvir no domingo a tarde no Regent's Park!

7. The xx, "Crystalized" (2009) Recentemente ganhou o prêmio de banda revelação do ano pelo The Guardian. Dark levemente dançante, minimalista e sexy. Deu pra entender? :-)

8. The Rapture, "Get Myself Into It" (2006) Essa é pra quem diz que não dá pra dançar rock. Sempre dá. É só querer, e ter um pouco de boa vontade!

9. Franz Ferdinand, "Take Me Out" (2004) Iniciou o maravilhoso movimento de levante do rock revival dos anos 80, e de quebra, causa furor na platéia como os Beatles!

10. The Ordinary Boys, "Over The Counter Culture" (2004) Nada se cria, tudo se copia. Das bandas que emularam o Madness (banda inglesa de Ska/pop de Camden Town no final da década de 70) esta foi a melhor. Sem falar que o nome da banda foi inspirado numa música do Morrissey...

11. Gorillaz, "Demon Days" (2005) Talvez a música mais xarope do CD, mas presente por um motivo especial. Projeto paralelo dos caras do Blur tão profíquo quanto a banda original, faz um flerte com o eletrônico pouco convencional - nesta música convidaram um coral de crianças para participar das gravações.

12. Happy Mondays, "Hallelujah" (1988) Esta banda faz um rock dançante meio psicodélico e foi precursora do movimento das raves no final da década de 80 em Manchester. Quase um mantra, é interessante perceber que a palavra é usada no Judaísmo como parte das orações de Hallel e que também aparece 24 vezes no Velho Testamento da Bíblia cristã, que corresponde grosso modo aos conjuntos de livros Tanach (Torah, Neviim e Kethuvim) do Judaísmo (obrigado, mais uma vez, Wikipedia!) הַלְלוּיָהּ

13. Morrissey, "Suedehead" (1988) Ele diz tudo o que precisamos saber sobre a vida, principalmente a angustiada. Tornou-se celibatário, e se ele fez esta opção, algo está errado na raça humana, e não com ele. Também é vegetariano e costuma se envolver em polêmicas, mas é por uma boa causa. Existem momentos na vida em que melhor amigo que ele não há. Long live Morrissey!

14. Siouxsie And The Banshees, "Cities In Dust" (1985) Ela começou punk, mas depois flertou com o gótico e construiu uma carreira invejável. Até o Robert Smith do The Cure tocou com ela! Esse arrasa quarteirão embalou muitas noites na Robin Hood Pub, no Alto da Boa Vista e certamente em outras milhares de localidades mundo afora! Viu como dá pra dançar?

15. Depeche Mode, "World In My Eyes" (1990) Top 5, fácil. Começaram electropop e depois colocaram um pouco de lápis preto e estruturas de aço nas composições, as tornando mais densas. Dave Gahan é um exímio showman - sem falar no talento incontestável do compositor principal Martin Gore - e é um concerto que não deve ser perdido em hipótese nenhuma se passar pela sua cidade, entendeu?

16. Everything But The Girl, "Oxford Street" (1988) Apesar de também namoricar com a nossa bossa nova, mais eletrônico que o Swing Out Sister e um pouco mais melancólico também. Por isso mesmo, talvez ainda melhor. Cá entre nós, a frase "When I was seventeen, London meant Oxford Street... I grew up in a little world" soa bem familiar pra nós, tupiniquins. Essa linda rua é a meca das compras mainstream em Londres e onde havia as melhores lojas de CD (quando isso ainda existia, risos). Sem falar que a estação de metrô é uma graça (como quase todas) e tem várias interseções com diversas linhas. Ou seja, você sempre passa pela Oxford Circus. E com essa beleza toda, não há como não olhar sempre de novo...

17. The Smiths, "This Charming Man" (1983) A única repetição merecida da lista, pois afinal, o Morrissey é 80% do The Smiths, conforme já comentado aqui no blog. Essa é pra ouvir no sábado à tarde!

18. Bauhaus, "Kick In The Eye" (1981) Aqui o pós-punk encontra o funk. Os baluartes do rock gótico começam a ficar mais animadinhos e fazem esta obra-prima! A banda acabou em 84, mas tive a honra de ver um dos revivals deles na histórica Brixton Academy em 1998. Simplesmente inesquecível.

19. Cocteau Twins, "Carolyn's Fingers" (1988) Se existe céu, é esta voz que você encontrará lá tocando nos alto-falantes. No começo, nos idos de 1982, Liz Frazer cantarolava coisas intelegíveis e isso não tirava sobremaneira o brilho das músicas. Nesta fase ela já estava começando a se querer fazer entender - mas ainda assim não era muito fácil!

20. Pet Shop Boys, "Suburbia" (1986) Ah, os subúrbios de Londres, que os turistas quase nunca conhecem, pois quando visitamos a cidade costumamos ficar na zona 1, mas a imensa cidade tem 6 zonas só no metrô, fora os trens urbanos. Esta música alterna os prós e contras dos subúrbios, numa melodia muito densa que flerta com o pop. Não é a toa que são cultuados por algumas das figuras mais ilustres do rock.

21. The Mission, "Butterfly On A Wheel" (1990) Outro espécime do pós-punk, dissidente do Sisters Of Mercy, e com uma densidade nas canções criada a partir de muitos violões e dedilhados bem espertos. E "And in the dark for me, you're the candle flame that flickers to life" é uma bela frase, indeed. Essa faixa fecha o CD propositalmente e, por experiência própria, pode fazer chorar, cuidado!

Enfim, amigos, aproveitem ao máximo a estada e, quem sabe, qualquer dia desses a gente se encontra por aí, porque Londres "is never enough", como diria Robert Smith!

segunda-feira, agosto 30, 2010

Dançar ou Não Dançar?

Hoje fiquei triste sabendo da morte (suicídio?) de Charles Haddon, vocalista da banda londrina de eletropop Ou Est Le Swimming Pool, no último 20 de agosto. Os caras são de Camden (tem lugar melhor que aquele no mundo?) e estavam apenas começando a ajudar a criar vida inteligente na combalida dance music dos últimos tempos. Charles subiu numa antena de telecomunicações e caiu (se jogou?) de uma altura de 18 metros logo após terem tocado no descoladíssimo Pukkelpop Festival, na Bélgica. Ultimamente estavam abrindo pro La Roux, outra banda londrina bastante interessante com estilo bem semelhante, influenciada pelo synthpop londrino dos anos 80.

Nunca fui rato de danceteria (sim, na minha época, isso era sinônimo de balada), até porque dançar nunca fez muito a minha praia, mas obviamente as casas noturnas (caramba, quanto mais falo, mais entrego a idade) que tinham uma pegada mais Rock, muitas vezes com música ao vivo, a gente acabava freqüentando. Hoje, mais de 10 anos sem saber as nuances da "night" (sim, este termo foi cunhado pouco antes da minha saída da mesma pela esquerda, como diria o saudoso leão da montanha), me parece que as coisas ficaram mais polarizadas e "show é show" e "balada é balada". Pode ser efeito da situação geográfica - é provável que em Sampa (e no Rio, quem sabe) ainda haja baladas de todo tipo, inclusive aquelas que tocam Rock, e onde, quem diria, as pessoas dançam!

Depois do final dos anos 70, o dance mais "clássico" já teve seus flertes: com o pós-punk no início dos anos 80 (ou sou só eu o maluco que consegue dançar com "Kick In The Eye" ou "Wax And Wane"?); diluindo o eletrônico do Kraftwerk no final dos anos 80 via Technotronic e Pop Will Eat Itself, só pra citar alguns; misturado com R'n'B e Hip Hop, da década de 90 até hoje; na festa dos DJ's autorais, até meados da década de 00; e mais recentemente, em crossovers bem interessantes - principalmente aqueles que emulam os 80 (já resenhei essa tendência aqui no blog em 2005), tipo The Rapture (o "Pieces of the People We Love" é todinho bom pra dançar!), o The Ting Tings ("That's Not My Name" e "Shut Up and Let Me Go" são bem legais) e a figuraça Lady Sovereign (que pegou a "Close To Me" do Cure e fez um rap inglês nervoso em "So Human")!

Ainda assim fico com a impressão de que o "dance" sempre fica dissociado das músicas mais "sérias", ou menos ortodoxas nas baladas mainstream, pelo menos enquanto vermos lixos do tipo "Alejandro" e "Pa Panamericano" bombando na "night". Enfim, se é pra ter letras robotizantes à prova de neurônios, prefiro a "Cicciolina" do Pop Will Eat Itself, que quem diria, virou hino "lado B" da Copa da Itália de 1990!

sábado, julho 24, 2010

Last Month I Heard...

Tantra, "Fábrica".
Já tinha baixado o Tributo a Renato Russo há pelo menos um ano, mas nunca tinha conseguido assistir. Na média, bem fraco e muito aquém do que o grande Renato mereceria, mas algumas poucas músicas salvam o tributo do fiasco total. "Metrópole", com o Forfun, surpreende misturando new-punk com ecos de nu-metal, e melhorando o mix de estilos que Charlie Brown Jr. tentou fazer, mas nunca conseguiu, com muita maestria. A Vanessa da Mata emociona (eita, quem diria, eu dizendo uma coisa dessas) com "Por Enquanto", mas a cereja do bolo é a supracitada, presente no segundo álbum da Legião, " Dois", uma obra-prima e certamente presença ilustre em quelquer lista dos Top 10 álbuns nacionais. Muito legal também foi ver Lourenço Monteiro, o baterista do Tantra, arrebentando nas baquetas. A presença do ex-baterista do Wonderland (que assim como outros ex-integrantes, às vezes parecem ter vergonha do passado "from hell"... risos), me fez lembrar, com muita saudade, da época em que moleques compunham na calada da noite, regada a pipoca e Coca-Cola, momento este que valeria qualquer fortuna para pagar a tarifa do bonde do passado e voltar pra passar mais uns momentos por lá.

Sting, "Another Day".
O gajo acabou de lançar um novo caça-níquel, "Symphonicities", com versões do seu cancioneiro, acompanhado por uma orquestra. Ouví-lo só me deu ainda mais saudade dos tempos de "Bring On The Night", álbum originado da turnê da sua melhor safra, já resenhado aqui no blog.

Kreator, "Terrorzone".
Baluartes do Thrash Metal, deram um show na quadra da Escola de Samba da Estácio de Sá em 1992, na turnê do "Coma Of Souls", álbum perfeito do começo ao fim, que só não botava o Slayer no chinelo porque, por volta daquele ano, eles também lançaram sua obra-prima, "Seasons In The Abyss". Apesar do local bizarro, o show foi fantástico e é uma grata surpresa saber que Der Brüder ainda estão na ativa.

Dio, "Holy Diver".
Sem comentários. O melhor cantor do Metal não podia ter ido dessa pra melhor logo agora... o cara ainda tinha muito chifrinho pra fazer, saltinho pra usar e líções pra ensinar. Enfim, perda irreparável. Não me lembro bem, mas acho que o primeiro disco de metal que comprei foi o dele, um EP de "Hungry For Heaven". Não pode ser mera coincidência.

Caetano Veloso, "Como Dois E Dois".
"Tudo certo como dois e dois são cinco"... O que dizer de uma frase genial como essa? Ultimamente ando feliz com o mestre, porque o estupefato "Cê", de 2006, foi a resposta exata à entressafra de praticamente dez anos desde o ótimo "Livro", de 1996 - estou descontando o "Noites Do Norte", de 1999, que tinha lá suas cacetadas ("Tempestades Solares" e "Cobra Coral" salvaram o disco do fiasco), mas que é abaixo da média do gênio. Pois bem, eu já havia prenunciado (e até rezado, sem saber rezar!) que ele voltaria com força total, numa resenha de 2005 aqui no blog. Essa música é da década de 70, mas entrou na turnê do Cê e não ficou nem um pouco deslocada, assim como as ótimas "You Don't Know Me" e "Nine Out Of Ten", do álbum "Transa", de 1971. Mas, afinal, qual música do Caetano ficaria deslocada no tempo e espaço, se todas são eternas...?

sábado, março 13, 2010

Ouvindo Na Última Semana...

Cocteau Twins, "Squeeze-Wax".
Conseguiram neste álbum, "Four Calendar Café", chegar bem perto da perfeição. Essa é só mais uma das dezenas maravilhosas. Sinto saudade do que infelizmente não vi. Reverência com melancolia. Banzo?

Bauhaus, "Endless Summer Of The Damned".
Que retorno... simplesmente espetacular. Diferente de Echo e Mission que cumpriram tabela, eles realmente fizeram um lindo canto do cisne com "Go Away White".

Wonderland, "Non Compos Mentis".
Voltei a ouvir essa demo depois de uns 15 anos e a música título realmente era demais. Pena que a gravação não tenha ficado tão boa, especialmente por causa do vocalista que vos fala. Se assim já fez barulho, quem sabe com uma boa gravação a estória não teria sido diferente...?

Marillion, "Cover My Eyes".
Crucifiquem-me, mas Marillion com Steve Hogarth nem se compara com a era Fish. Essa na versão acústica arrebenta, apesar do melhor deles ter sido na estréia do Steve, "Seasons End".

a-ha, "Manhattan Skyline".
Essa música fica bem tanto acústica, quanto "versão fudêncio". Já resenhado no blog, esse álbum, "Scoundrel Days", é realmente ótimo. Pena que não vou conseguir me despedir deles na Farewell Tour...

sábado, março 06, 2010

Escolhas ou Pirataria Nos Anos 80

No auge da vontade de ser roqueiro, decidi que tinha que comprar um LP "pirata", ou seja, um "bootleg" como diriam os gringos. Não me lembro exatamente aonde, mas acho que foi numa loja no Edifício Central, na Carioca, que fiquei em dúvida entre dois álbuns diferentes: U2 e Venom.

Que diferença! A popice do U2 tinha me pegado - mas não de jeito - com o War (83), já resenhado aqui no blog. O problema era a "vontade" de virar metaleiro. Também, depois de ter comprado o ingresso pro dia do Metal no Rock In Rio I (19/01/1985), e não ter ido porque chovia cântaros, o mínimo que eu podia fazer era recuperar o tempo perdido radicalizando um pouquinho. O nome da banda era maneiro, a capa tinha os "figuras" escabrosos da banda e ainda era cheio de caveiras e ossos, pra completar. Foi páreo fácil, apesar do medo de não gostar do piratão.

Mas quem disse que eu não ia gostar? Com 13 anos a gente "se puxa" (ou seja, se esforça, como diriam os gaúchos), pra não ser igual, e comigo não foi diferente (ê trocadilho infame!). Acabei comprando outro disco do Venom, "At War With Satan", num sebo, por tipo "50 centavos", e tentei forte, mas sinceramente nunca gostei de verdade dos caras...

Vale ressaltar que a qualidade da impressão da capa e da prensagem do vinil eram péssimas (sem falar na capa totalmente tosca, que trazia uma cópia frontal da capa da versão em vídeo, meio que no tamanho original, circundada por branco pra ficar mais barato), bem como a falta de cuidado com o som da gravação (que deve ter sido copiada do original em VHS sabe lá como!) e o selo interno que também era simplesmente branco e toda vez era uma emoção descobrir qual era o lado certo, até que eu percebesse que no espaço entre o final dos sulcos e o selo branco havia umas coisas escritas e lá devia ter um número 1 ou 2 pra ajudar - e olhe lá!

Afinal, não que o do U2 também não fosse esse fiasco "técnico", pois se naquela época até as prensagens oficiais eram meia-boca e as impressões também deixavam a desejar, quanto mais um piratão. Enfim, no final das contas, pensando bem, o do U2 era (é?) muito mais disco, com as ótimas "The Electric Co." e "I Will Follow", apesar de também já não fazerem minha cabeça há bastante tempo.

Outra informação relevante é que "os pirata" era caro pra caramba! Tipo três vezes o valor de um LP, ou seja, chutando nos valores de hoje, tipo uns 100 reais... Eu só consegui comprar esse do Venom porque tirei segundo lugar num bolão da Copa de 1986 com mais de 100 pessoas e o prêmio varava 1000 reais. Queria comprar uma guitarra, mas meu padrasto não deixou. Aí acabei gastando em um monte de besteiras, tipo esse pirata do Venom! Entre outras coisas, comprei um monte de álbuns, como o Rádio Pirata Ao Vivo do RPM e um Rádio-Gravador Panasonic.

Pois é, comparar a pirataria daquela época com a de hoje é covardia. Até porque o must da "pirataria" era gravar as fitinhas K7 com os discos emprestados dos amigos, ou dos amigos dos amigos, ou até mesmo dos amigos dos amigos dos amigos... mas isso é assunto para um outro post.

P.S.: Resolvi ouvir de novo esse disco do Venom (20 anos depois! e dá-lhe os mp3 da vida), e até que eles não são tão ruins... o At War é fraco mesmo, mas nesse ao vivo eles estão melhores que Mötorhead.

sábado, fevereiro 27, 2010

A Quantos Shows Você Já Foi?

132... and counting! Foi difícil puxar pela memória e nem sei se lembrei de todos...

Coloquei na lista só os mais representativos, sem demérito nenhum às dezenas de shows de ótimas bandas underground como Gangrena Gasosa, Second Come, Dust From Misery, entre várias outras!

Pra ver cada um deles no detalhe, é só clicar na figura à esquerda.

sábado, dezembro 12, 2009

As Cinco Músicas Mais Ouvidas Nas Últimas Semanas

"Just A Man", Faith No More
"Bricks And Mortar", Editors
"Some Heads Are Gonna Roll", Judas Priest
"A Pain That I'm Used To", Depeche Mode
"11 y 6", Fito Paez

As explicações virão em seguida... ou não!

sábado, agosto 22, 2009

Como lidar com a morte?

(Texto originalmente publicado em 2000 no meu sítio atualmente desativado, pode conter links "quebrados")

Desta vez só vou insensatamente jogar pedras n'água e fazer com que os respingos suscitem a auto-análise, pois longe de mim tentar concluir algo sobre a morte. Afinal, como diria o cineasta polonês Andrzej Wazda, "The most important thing is to make people think" (A coisa mais importante é fazer as pessoas pensarem).

A morte de outrem não é mais que uma extrapolação do sentimento de perda. Todos nós convivemos periodicamente com este sentimento. Verdade que muitas vezes a perda é transitória, mas algumas vezes não. E por que então a morte assusta tanto? Jogadores "natos" têm como uma habilidade a capacidade de aceitar este sentimento com muita freqüência, talvez devido à super-exposição. Procurei por algo que sustentasse esta minha teoria psicológica, mas infelizmente nada encontrei. Então por que, para nós, reles mortais, é tão difícil aceitar a perda?

Morrer também é outra tarefa difícil de aceitar. Mas e o que dizer das pessoas que querem morrer? Tentei também, em vão, procurar métodos indolores para provocar a "auto-morte". Porém, depois de uma hora procurando, deparei-me com a constatação de que se houvesse um sítio com dicas sobre "como suicidar-se sem sentir dor", além do número de acessos elevadíssimo, a taxa de suicídio certamente aumentaria horrores. Me lembro que uma vez alguém lançou um livro com um título parecido, mas se a censura existe na Internet, ela provavelmente veta páginas deste tipo...

Sempre tendemos a achar que somos "novos demais para morrer" e vejo que isto está na maioria das vezes associado à quantidade de projetos (sonhos?) que temos a realizar. A chave da questão é que a felicidade está em crer que os projetos nunca acabam, mas a vida sim. Portanto, devemos estar sempre preparados para a morte - desde que ela não seja dolorosa, claro. E se ela será daqui a 3 ou 50 anos, não acredito que seja o mais importante.

Pelo sim, pelo não, fiz o teste da morte em The Spark.com. De acordo com os resultados gerados através das respostas de 100 perguntas, a data prevista para a minha morte seria em 22 de julho de 2058, com 85 anos de idade. Enfim, o cálculo da "sobrevida" está nitidamente associado à capaciade (coragem?) de ser "porra louca" e os próprios criadores do sítio alegam que se fôssemos como eles, provavelmente já estaríamos mortos!

Há quem goste de chegar perto e voltar. A experiência de ter tido uma EQM (Experiência de Quase-Morte), ou o que os americanos chamam de NDE (Near Death Experience), pode ser deveras excitante, inclusive como mostra o filme "Linha Mortal". Bastante gente leva a sério o assunto e a "ciência" têm lá suas metodologias para induzir e potencializar os efeitos da EQM.

A filosofia de "morrer antes que os sinais da velhice apareçam" tem milhares de seguidores pelo mundo afora. Um curador de renome, Martin Maloney, resolveu criar em 1998 uma "coletânea" de esculturas de novos artistas em um projeto intitulado "Die young, stay pretty". Esta frase tem sido citada várias vezes em locais insólitos ao longo dos anos. Por exemplo, a banda Blondie, dos hits "Heart of glass" e "The tide is high", que depois de 15 após o seu término resolveu voltar à ativa recentemente, já citava esta frase em 1979, em uma música de mesmo nome.

Glenn 'Artboy' Zucman, um designer alemão, também cita a frase no seu sítio - com fractais muito interessantes, diga-se de passagem - quando faz observações sobre "almas e fatos", como ele mesmo diz, em uma crônica muito interessante sobre Sheck Exley, um matemático e estatístico que praticou durante 22 anos 'scuba diving' e escreveu dezenas de livros de renome sobre o assunto, onde comumente citava a célebre frase "somente uma pequena percentagem dos acidentes envolvendo mergulhadores experientes acontece ao mergulhar em cavernas muito fundas".

Portanto, Como Queríamos Demonstrar - o matemático Exley diria - as estatísticas não se sustentam quando a vida é posta em cheque. Mas se morremos fazendo o que mais gostamos, isso é a garantia de uma morte feliz? Como a vida "tem dessas coisas" (e a morte também, porque não?), nem seria preciso dizer que Exley morreu exatamente desta maneira em 1994, aos 45 anos, depois de ter realizado mais de 4.000 mergulhos, em uma caverna de 330 metros de profundidade no México.

Falando em México, o dia dos mortos provavelmente é a festividade mais popular por lá e teve a sua origem com os indígenas da região. Esta reunião tem como princípio a felicidade, ao contrário da tristeza habitualmente associada à morte. As crenças dos mexicanos dizem que oferendas fariam "a viagem até a morte" mais fácil. Entre as oferendas, o "pão do morto" é a mais interessante, em forma de um ser humano com um desenho de ossos cruzados. Outra bem popular é o "crânio de Marzipan". Entre as tumbas, pessoas tocam músicas, correm pelas ruas fantasiadas e festejam. As velas e os incensos, a comida e as bebidas, a música e as fantasias são apenas atrações para uma celebração da vida, e lembrar e honrar os mortos, para que habitem novamente por alguns momentos o mundo dos vivos. Uma exposição permanente muito interessante com algumas obras sobre este assunto pode ser encontrada no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Dentro desse princípio, muito antes de conhecer a filosofia do dia dos mortos, eu sempre imaginei que a minha morte mereceria uma festa. Não do tipo "Ainda bem que aquele mala foi dessa pra melhor", mas para que pelo menos fosse fosse feito o exercício de celebrar a oportunidade de ter conhecido alguém especial. Pretensão? Claro... mas no fundo isso é o que talvez devêssemos fazer a todo momento. Afinal, a louvação não deveria ser só para religiosos e nem só a deuses.

E já que um ateu falou de deuses, finalizando eu gostaria de citar especialmente Nietzsche - o mais ateu dos ateus - concordando em gênero, número e grau com ele, quando "assim falou", entre outras frases inspiradíssimas: "A intensidade de minha emoção me fez tremer e rir. Minha melancolia quer descansar nos abismos da perfeição: para isto necessito de música. Não há melhor mel que aquele do conhecimento. No seu último sopro, ele criará a alegria de conhecer as nuvens que pesam sobre sua tristeza, será para você os seios, onde você poderá tirar o leite de seu reconforto e fará com que você se volte para a luz!". Outro fã de Nietzsche era Richard Strauss, que deu o nome da obra mais representativa de Nietzsche a uma de suas melhores peças musicais, "Assim falou Zarathustra", que não por acaso pontua uma das cenas mais belas do cinema em "2001 - Uma Odisséia no Espaço", de Stanley Kubrick, quando o monolito jogado ao léu faz um estupendo contraponto entre o homo sapiens e o homo "espacius".

Mas o magnífico Kubrick já é papo pra uma outra conversa... Até a próxima!