sábado, outubro 08, 2005

Que venha a noite !

Revi recentemente o filme "Bring On The Night" do Sting, movido pelo seu relançamento em DVD. Não há muita novidade - apenas clipes da época e fotos pouco inspiradas - a não ser pelas legendas, que ajudam a conhecer melhor o corpo (e a alma!) do The Police. O filme retrata o nascimento do repertório moldado com a ajuda de músicos da escola jazzística para a sua primeira turnê solo. Aliás, uma boa parte das canções interpretadas nessa turnê derivaram do seu primeiro álbum, "The Dream Of The Blue Turtles", que inclusive foi indicado ao Grammy de melhor álbum de Jazz - segundo Sting, para o seu desespero e posterior alívio por não ter ganhado o prêmio! Aproveitando a deixa, o próprio acabou de tecer comentários interessantes no seu sítio sobre este álbum, aproveitando seu 20º aniversário de lançamento.

Pois já em 1985, o professor era pretensioso e arrogante - imagem talvez cristalizada hoje em dia - mas inimaginável na época em que eu ouvia o disco duplo e delirava com os arranjos "jazzy" das delícias pop de Sting. Até hoje acho uma perfeita porta de entrada para se entender o Fusion (mistura de Jazz e Rock), visto que acabei me enveredando pelos caminhos de Stanley Jordan, Chick Corea e Spyro Gyra, mas não consegui evoluir na paixão pelo gênero até hoje - John Coltrane e Dave Brubeck para mim ainda são como "one hit wonders", rótulo clássico daqueles artistas onde um único sucesso passa a ser sua referência musical. Portanto, virtuosismo para mim, só com muitas pitadas de Pop, como fez muito bem, por exemplo, o Rush, a partir da década de 80.

Voltando ao Sting, não sei se pela falta de inspiração ou pela vontade de se enveredar por projetos mais arriscados que os musicais, ele resolveu fundar a ONG Mata Virgem no Brasil para captar recursos a favor da causa do índios caiapós e da floresta amazônica, hoje chamada de Rainforest Foundation. Não discuto a nobreza do gesto, mas o fato é que paralelamente o cara acabou perdendo a noção do ridículo. O antropólogo e cientista Walter Alves Neves, que também atuou como assessor da ONG, resumiu bem a questão, em entrevista para a Folha em 2002: "O Sting tinha um coração de ouro, coitado, mas, na questão antropológica, ele só tinha dois neurônios".

Este comentário curioso vai de encontro com um fato inusitado que ocorreu comigo em meados de 1992. Estava eu no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro quando me deparei com um sujeito de boina quadriculada, tênis bamba, calça surrada, óculos escuros, branquelo e com pinta de gringo e que parecia estar na mesma situação que eu: esperando alguém.

Pois bem, depois de alguns minutos observando o "gajo", dei-me conta de que aquele era o Sting. Mas como podia estar tão mulambento alguém aparentemente tão pintoso e vaidoso? Enfim, num rompante de tietagem, consegui papel e caneta e me aproximei para pedir um simples autógrafo. Gastei o meu melhor inglês para pedi-lo delicadamente, mas não é que o cara foi super grosso comigo dizendo que não queria ser percebido ali - dava pra notar pelos trajes à fantasia - e que eu ia estragar tudo se ele embarcasse na minha tietada?

Diante dessa, saí de fininho - muito irado - e levei uns bons anos pra botar algum outro disco do cara na vitrola...

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