domingo, outubro 22, 2000

Acoustic: A Cool Stick (Sets Your House On Fire)

Um projeto composto de violões, percussão, sopros e vocais remete mais a um "luau" do que aos "acústicos" que vem assolando o mercado ultimamente. Daí vem "Acoustic: A cool stick sets your house on fire", que mais do que um trocadilho em inglês para "acústico", o nome dá uma idéia bastante clara do que se propõem as canções do álbum, "incendiar", romanticamente ou não...

P.S.: Projeto para o primeiro álbum solo de Pawel Keller arquivado indeterminadamente desde o final de 2000.

Faixas
"Armadilha/Kick in the eye" (Finis Africae/Bauhaus)
"When all's well/Bizarre love triangle" (Everything But The Girl/New Order)
"Tudo/Tempo" (Pawel Keller)
"A question of lust/Do you want to know a secret?" (Depeche Mode/Beatles)
"Culto de amor" (Edgard Scandurra)
"It's fucking boring to death" (De Falla)
"Bird mad girl" (Cure)
"Adaga/Amor Urgente" (Pawel Keller)
"I wanna be adored" (Stone Roses)
"Crazy" (Seal)
"Maçã" (Pawel Keller)
"La muralla verde" (Enanitos Verdes)
"It could take a strong, strong man" (Rick Astley)
"Penumbra" (Pawel Keller)
"The lady don't mind" (Talking Heads)
"The passion of lovers" (Bauhaus)
"Butterfly on a wheel" (Mission)

domingo, outubro 15, 2000

A Volta do Finis Africae !!!

Tendo feito o seu primeiro show depois da volta em dezembro de 98, o Finis continua na ativa. E quem diria, estreando o seu website, de autoria do crooner da banda, Eduardo de Moraes!

Por Humberto Teles (colaborou Pawel Keller)

 A volta em dezembro de 98 na Fundição Progresso com o Black Future e o Hojerizah foi um presente divino! De lá pra cá, muitas histórias... as fantásticas apresentações no Ballroom (com Zero e Violeta de Outono), a ótima jam no Méli Mélo com várias participações especialíssimas, o peso na Bunker 94 (prá não ficar atrás dos Inocentes?), só pra citar algumas apresentações.

Mas o que mais me chamou a atenção em julho passado foi o fato do Finis ter tocado - na mesma semana - em dois redutos de tribos praticamente antagônicas e que "não se bicam": os mauricinhos e os maluquinhos... isto mostra - no mínimo - a grande vontade do Finis em tentar conquistar um novo público, ainda que aparentemente heterogêneo.

Surpreendentemente a receptividade ao show na Méli Mélo foi bastante boa e o som estava nota 10! Aliado a um repertório escolhido a dedo - com exceção da bola fora de "O quê", dos Titãs, o Finis simplesmente detonou. A banda cada vez mais exala virilidade a olhos vistos.

O vovô Toni Platão (ex-Hojerizah) bateu o seu cartão em "Pros que estão em casa" (essa foi na trave) e Renato "Negrete" Rocha (ex-Legião) e Philippe Seabra (Plebe Rude) deram uma força em "Fátima".

Na Bunker 94, o show foi num "kinder ovo" de palco, muito pequeno, mal cabia a banda dentro. Antes do show bati um papo com o Eduardo e o MacGregor, sendo que o primeiro me disse que o álbum "Finis Africae" (clique aqui para ler uma crônica sobre o disco) estaria agendado pra ser lançado pela EMI-Odeon em setembro, com tiragem de 3.000 cópias... afinal, sonhar não custa nada! Sem contar com o álbum ao vivo gravado em Brasília em abril de 1999 prontinho pra ser lançado, mas infelizmente até o momento, nada concreto (mas esperamos que ele não rache antes).

Não houve passagem de som e o César até tentou fazer uma, mas o Ronaldo mandou logo "já era, agora é pau dentro!" e os caras levaram na raça mesmo. O set acabou sendo curtinho, só com uns 25 minutos, mas a idéia inicial era fazer bem parecido com o da Méli Mélo. Eles começaram detonando com "Deus ateu", que foi devidamente emendada com uma versão pesada de "Vícios". Ah, o MacGregor levou só na guitarra e... olha, esse cara toca muito bem, os solos dele são bons (vide o solo de "Chiclete" na Méli-Mélo?), as vezes acho até que eles deviam encostar de vez aquele teclado! Depois veio a nossa conhecida "Acrobata" em versão matadora e baixo pesado. O próximo número foi "Ask the dust", também em versão pesada e com um belo dueto de solos entre o César e o MacGregor (esses caras são foda!).

Depois veio aquele cover burocrático de "Pros que estão em casa" (Hojerizah) e me desculpem, mas EU ODEIO HOJERIZAH!!! Como eu disse uma vez pro Roberto e pro Ronaldo no último show... "Eu tenho ojeriza de Hojerizah", e eles morreram de rir... Eles bem que poderiam tirar essa canção do set-list e colocar algum hit deles, como a grande "Mentiras"! Até um cover da Legião serviria... qualquer coisa, menos Hojerizargh!

Bem... depois disso a corda da guitarra do César arrebentou e ele ficou meio puto, disse que ia cantar junto com o Eduardo e só, mas pegou na guitarra assim mesmo e levaram... "Van Gogh"!! Sim, isso mesmo! Fazia tempo que eu não escutava essa grande canção e eles colocaram umas guitarras pesadas e com efeitos psicodélicos, bem tipo "Love" do The Cult... muito legal mesmo! Por fim, veio o cover de "Fátima", que parece que foi arranjada pelo The Cult também (essas duas últimas entrariam com certeza no grande "Love", risos!!!!). E o show terminou assim. Ficaram de fora a nova e ótima "Jovens" (bem pesadinha, não?) que foi pedida por alguém na platéia e "Ética", as duas constavam no set-list, mas foram postas de lado.

Repararam uma coisa? Pela primeira vez eu assisti um show do Finis em que "Armadilha" e "Máquinas" NÃO FORAM TOCADAS!!!! E o mais curioso... nem foram incluídas no set-list. Isso eu vou ter que perguntar pros caras depois!

quinta-feira, abril 06, 2000

Morrissey no Brasil !!!!!

Euforia? Ansiedade? Entusiasmo? Angústia? Tudo junto. Ou separado, como diria um amigo meu (afinal, por que separado é tudo junto e tudo junto é separado?).


Lembro-me como fosse ontem, no auge dos meus 13 anos, ouvia falar bastante do Smiths, tido como a sensação européia e era inevitável que eu acabasse correndo atrás de alguma maneira de ouvi-los. Rádio? Ainda não... Sim! Um flexidisc com Still Ill encartado numa edição da Bizz no verão de 86 foi a deixa. Eu confesso que ainda não estava preparado. Queria gostar, mas não conseguia. A raiva contida nos versos "Ask me why and I'll spit in you eye" era demais pra mim naquele momento. Eu só iria ouvir Sex Pistols uns seis meses depois, talvez a explicação venha daí.

Mas não me dei por vencido. O primeiro lançamento nos Smiths no Brasil (quase real time!) foi "Meat is murder", um disco sem "hits" fáceis, e por isso mesmo difícil de entender, mas ao decifrá-lo, um punhado de deliciosas surpresas. Mais uma vez, a memória bem fresca: ainda neste mesmo verão de 86, numa das incursões familiares pelo supermercado, vi o famigerado vinil. Bate pé daqui, dali, "tá bom, meu filho, pode levar". Outra paulada na moleira. Encostei o disco por uns meses.

Natal de 86. Auge do Plano Cruzado. Presente de Natal? Vinil, como não? Entre um dos "repetidos", a chance de obter o famigerado "The queen is dead". Sim, agora já tinhamos "hits", inclusive na rádio. Pronto. Eu já estava contaminado pela angústia smithiana. O resto é história. Grande parte da discografia ainda está por aqui entre vinis, K7s e CDs e mp3. Poderia ficar dias aqui citando frases do monstro literário Stephen Patrick Morrissey, e tentar decifrar a sua indecifrável verve, mas vou deixar para fazê-lo lentamente, ao longo da semana...

Se eu estou feliz? Uma espera de 14 anos não podia ser melhor! Certamente depois disso tudo estamos mais maduros, eu e Morrissey. Ainda que as músicas do Smiths na turnê não tenham sido as "Crace A" (como diria João Gordo), o roteiro do show foi simplesmente magnífico. E Smiths é Smiths. Extremamente simpático (à sua maneira inglesa, é claro!), puxando papo com a platéia e zombando, dizendo que ele nunca tinha vindo antes pra cá porque nós não tínhamos convidado!!! Agradeceu várias vezes pela nossa espera, que valeu a pena, sem dúvida nenhuma! Brincou com a fã que o segue pelas turnês no mundo, Julia Riley (este deve ser o seu show número 160), jogou camisas suadas na platéia e perguntou que músicas queríamos ouvir (ainda que o set list do show fosse completamente imutável). A metada da platéia que foi ouvir "Smiths" gritou em coro: "Bigmouth"! Ele só riu. Aliás, depois de "Half a person", "Meat is murder" e "Is it really so strange?" ainda tinha gente pedindo pra tocar Smiths!!! Será que eles perceberam que já tinha rolado Smiths... Pra quem há 10 anos atrás nem cogitava a possibilidade de tocar umazinha... tá bom demais. Depois, pediram a magnífica "Sing your life", do Kill Uncle (91). Ele então titubeou, riu e ensaiou um começo... mas não lembrava da letra! Mas a "palhinha" já foi bastante... "Sing your life, any fool can think up words that rhyme".

Sonho? Sim, mais um grande sonho realizado. Pra quem pensou seriamante em ir pra Londres só pra ir a um show da figura... bom, na mesma semana veria o maravilhoso Everything but the girl, que sinceramente, é o único que me falta, já que o Ian Curtis (Joy Division) passou dessa pra melhor há 20 anos. De fato a geração 80 é uma privilegiada. Ainda com alguns (muitos!) anos de atraso, o Brasil entrou na rota do mainstream e pudemos ter o imenso prazer de conhecer estes mitos que fascinavam e atormentavam a nossa adolescência. Ainda que em alguns retornos fugazes as intenções muitas vezes não sejam as melhores (como foi o caso da turnê caça-níqueis do Sex Pistols em 95, Filthy Lucre Live), ainda assim sabemos o quão importante é guardar estes momentos vivos na retina e poder contar pros nossos filhos que pudemos vivenciar estes momentos.

Ainda que eles (bem, quase ninguém, é verdade) não dêem a mínima bola. Faz parte.

Frases:

Apologia ao suicídio: "To be finished will be a refief"
Crítica ácida: "There's too much caffeine in your bloodstream and a lack of real spice in your life"
Conquista infalível: "I will creep into your thoughts like a bad debt that you can't pay"
Descrença total no amor: "So sleep and dream of love, because it's the closest you will get to love"
Desencontros da vida: "The more you ignore me, the closer I get"
Eu só quero um xodó: "I am human and I need to be loved just like everybody else does"
Morte honrosa: "And if a double-decker bus kills the both of us... is such a heavenly way to die"
Não foi dessa vez: "Love is natural and real, but not for such as you and I, my love"
Ninguém me entende: "And I just can't explain, so I won't even try to"
Ninguém acredita em mim: "You'll never believe me so, why don't you find out for yourself?"
No mercado: "You're gonna need someone soon... and here I am"
Paixão platônica: "I've spend six years on your trail"
Perseguição: "There's too many people planning your downfall"
Profundo desleixo: "I would go out tonight, but I haven't got a stitch to wear"
Timidez: "I am the son and the heir of a shyness that is criminally vulgar"

Set List Rio de Janeiro:

THE BOY RACER - Uma pauleira pra começar muito bem o concerto.
ALMA MATTERS - Obra prima... sem comentários.
NOVEMBER SPAWNED A MONSTER - Ligeiramente mais lenta e cadenciada que o habitual, mas igualmente fantástica.
HAIRDRESSER ON FIRE - Esta também ficou mais lenta, grande interpretação do Moz.
OUIJA BOARD, OUIJA BOARD - A banda esteve muito bem nesta música, ao contrário da maioria do show.
THE MORE YOU IGNORE ME, THE CLOSER I GET - Levou o público ao delírio!
TROUBLE LOVES ME - Versão semi-acústica, eletrizante.
HALF A PERSON - Smiths. Preciso dizer mais algo? Acompanhada pela platéia em coro.
SPEEDWAY - Essa música é um desbunde. Fecha "Vauxhall and I" de maneira magistral.
A SWALLOW ON MY NECK - Pouco conhecida do público, não empolgou.
MEAT IS MURDER - Luzes vermelhas, sangue, uma morte sem motivo é assassinato... enfim, uma obra-prima!
BREAK UP THE FAMILY - "I'm in love for the last time", alterando a letra. Grande música.
I AM HATED FOR LOVING - O título diz tudo. Deliciosa.
IS IT REALLY SO STRANGE? - Mais Smiths, ovacionada. "I love you... and is it really so strange?". Ai que saudade do Johnny Marr...
BILLY BUDD - Rockão nota 10 !!!
NOW MY HEART IS FULL - Também semi-acústica, interpretação soberba de Moz. Essa música merecia um Oscar, Grammy, Premio Imprensa, sei lá.
TOMORROW - "Tell me, tell me that you love me !!!". Enfim, amanhã pode ser tarde demais. Essa fecha "Your Arsenal"... arrebenta!
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SHOPLIFTERS OF THE WORLD UNITE - No Brasil tudo acaba em pizza? Pois é, no show do Morrissey também. Inesquecível.

sábado, abril 01, 2000

A Chuva e a Saudade

Nunca imaginei que a chuva e a saudade pudessem ser tão parecidas. Na verdade, a semelhança entre as duas vem muito mais de uma constatação engendrada durante anos, proveniente de uma relação de amor e ódio, do que uma associação direta e impessoal.

"O prenúncio da aparição da chuva já causa uma sensação esquisita, algo próximo da indignação. Infelizmente, na maioria das vezes, a chuva vem sem avisar. E quando a chuva finalmente começa, é uma tristeza só. Uma letargia toma conta do corpo, e aquelas decisões mais enérgicas como ‘vou enfrentar a chuva!’, ou ‘vou me conformar com a chuva...’ ficam postergadas até um momento mais sensato. Que não tarda.

De estático passo a conformado. Sinto que a chuva pode nunca acabar e começo a imaginar formas de conviver com ela. ‘Aceitar sempre, render-se jamais’ é a única frase que aparece na minha mente. Porém, quando finalmente parecemos estar gostando da idéia de aceitar a chuva e tentar tirar dela o que há de bom, muitas vezes a chuva aperta e deixa o corpo frio, mais uma vez ávido por uma mudança de estado.

Enfrento a chuva. Respiro fundo e saio para a rua, onde a chuva inunda o meu corpo incontestavelmente. Depois de algum tempo, embriagado pela chuva, reconheço que "ter enfrentado fora o melhor remédio". O corpo fica quente, se anima, e finalmente revive. Pede por mais algumas gotas de chuva. Sem remorso de ter enfrentado a chuva, fico satisfeito por ter ido fundo e vivido a emoção de reconhecer que aquela depressão que se instalou não podia mesmo ser levada a sério e que a chuva merecia, no mínimo, respeito.

Enfim, após algum tempo, a chuva acaba, e lá no fundo, sinto que até tenho saudade da chuva!"

Bom, agora leia o texto entre aspas de novo e troque todas as palavras "chuva" por "saudade" e veja se continua fazendo sentido...

Agora faz mais sentido ainda???