quarta-feira, julho 07, 2004

Os álbuns que eu tive... [Parte 5]

Jesus & Mary Chain - Psychocandy (1985)
Comprei o vinil em 1987 nas Lojas Americanas de Laranjeiras
Esse odiei quando ouvi. Tive vontade de quebrar que nem o Cazé no Neurônio MTV. Achei desleixado, tosco e paradaço. Hoje percebo que pelo menos eles foram inovadores no conceito e os seus seguidores conseguiram aprimorar a fórmula. Na verdade não consegui gostar do Jesus & Mary Chain até que eles lançassem o seu terceiro álbum, o "Automatic" (1990), que hoje me lembra a mesma guinada que o Sisters of Mercy deu com o "Vision Thing" (1990), onde pitadas de testosterona, uma boa bateria eletrônica e uma tomada em 220 volts fizeram toda a diferença. Finalmente, o vocal doente e a guitarra senil estavam com mais "pegada" e também diferentes do segundo álbum, onde os toques de surf music anos 50 ainda não tinham me seduzido. Bom, no frigir dos ovos, os caras influenciaram muita gente boa, começando pelo My Bloddy Valentine e indo até o Oasis e passando pelo fenomenal Pixies, que inclusive fez uma fantástica releitura de um dos hits do "Automatic" no seu último álbum de estúdio, "Trompe Le Monde" (1992), antes do retorno triunfal em 2004.

Joy Division - Closer (1980)
Comprei o vinil em 1989 numa loja na Sete de Setembro
Comecei a freqüentar o centro da cidade na busca por sebos de discos, revistas e livros por essa época - a única exceção até esse momento eram as idas à Rua da Carioca para comprar encordoamentos e namorar as guitarras nas vitrines das lojas de instrumentos musicais. Ensaiei muito pra comprar esse álbum. Já gostava de New Order e tinha ótimas referências provenientes da Bizz, mas por algum motivo tinha receio de não gostar muito do som. Naquela época era difícil conhecer as bandas "obscuras", a não ser comprando os discos ou pegando emprestado com alguém, portanto, a gente tinha que se virar de algum jeito. Achar uma dessas "obras-primas" em sebos era tarefa árdua e como nenhum dos meus amigos gostava do Joy Division, eu tentava selecionar os melhores porque a grana era curta e a safra naquela época era profíqua. Na verdade, um outro motivo era um sentimento que tomava conta vez em outra de maneira bastante contundente comigo e se manifestava de várias formas e em várias fases: o radicalismo tipicamente adolescente. Achava muito rara a possibilidade do Joy Division superar o New Order de alguma maneira e fui retardando o projeto de ouví-los. Quando finalmente aconteceu - pra variar - demorei a entender. O minimalismo do som me causou uma certa repulsa e lembro que aconteceu igualzinho quando ouvi Siouxsie pela primeira vez, ao contrário do Cure, que sempre teve uma "pegada" que me encantava de graça. Mas foi só questão de tempo para se apaixonar pelo lirismo e a angústia das palavras e do timbre de Ian Curtis, admirar os ritmos inusitados de Stephen Morris e acompanhar o nascimento do baixo inconfundível de Peter Hook. Senti que tinha descoberto os mais puros representantes do punk que trocaram a revolta (adolescente?) pela depressão (adulta?) e que fatalmente naquele momento havia florescido uma das primeiras flores que compuseram o jardim que hoje chamamos de pós-punk.

Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens - Ao Vivo (1986)
Comprei o vinil em 1986 na antiga Mesbla do Passeio
Esse era um dos que eu ouvia saboreando um cornetto de creme com gotas de chocolate... era um ritual delicioso, mas raro porque eu dosava a gula pra poder comprar casssetes para gravar os álbuns que eu arrumava emprestado. Engraçado que os outros que eu ouvia seguindo o mesmo ritual - "Bring On The Night" (1986), do Sting, e o "Magic Touch" (1986), do Stanley Jordan - também tinham o mesmo clima (lendo as resenhas deles vai dar pra entender os porquês). Além de trazer uma nova roupagem para os clássicos do Kid Abelha, com versões estendidas e canções emendadas, o álbum tinha uma veia quase jazzística. Seria a recente saída do baixista e compositor Leoni a causadora dessa guinada nos arranjos? A vontade de exorcizar sua figura tão presente? O fato é que a banda até hoje não conseguiu superar a força daquelas composições e apesar de ter sustentado com louvor sua carreira desde então - e diga-se de passagem, sem altos e baixos, feito quase inédito entre as bandas do rock brasil 80 - e por essas e outras esse disco - quem diria - continua atual mesmo com a enxurrada de "acústicos" e "ao vivos" que foram lançados nesta década.

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