sábado, junho 06, 2015

Dez coisas que reaprendi com Sol Invictus

1. Você só vai entender depois de algum tempo. "Motherfucker" pareceu pouco interessante na primeira audição em Novembro do ano passado. Diferentemente de um primeiro single, aquele que geralmente chama a sua atenção o suficiente para que você compre o álbum, na verdade tratava-se daquele pedaço de um quebra-cabeça que você não consegue reconhecer onde colocar, mas quando o quebra-cabeça está quase finalizado, você não entende como não tinha percebido antes o seu lugar correto. De fato, o manifesto "Motherfucker" cai como uma luva depois do protesto esquizofrênico de "Black Friday" e a delicadeza sólida de "Matador".

2. Não tenha medo de pedir ajuda. Billy Gould, o baixista da banda, já havia co-produzido o último álbum da banda antes do hiato de 18 anos e resolveu desta vez assumir a função de produtor. Concordo que algumas vezes a liberdade criativa é mais importante que o tecnicismo do registro, mas não creio que a banda tenha tido problemas com produtores no passado e a sonoridade deste disco deixa ligeiramente a desejar, se comparado com Angel Dust - em especial no baixo de Gould. Talvez a banda tenha percebido isso chamando o próprio Andy Wallace, produtor de Angel Dust, para mixar o álbum, mas aí já era tarde demais.

3. Algumas coisas melhoram com a idade. Ano passado, a revista americana Spin divulgou um estudo onde Mike Patton aparecia como o vocalista "pop" com o maior alcance vocal: seis oitavas contra as cinco oitavas do destronado Axl Rose, cuja voz só piora ao longo dos anos. Neste álbum Patton está cantando melhor do que nunca, contrariando a natureza.

4. A roupa não faz o homem, mas ajuda bastante. No final de 2011, quando a banda apresentou sua primeira composição inédita em 14 anos, "Matador" parecia promissora, mas faltava um banho de loja. A gravação em estúdio deu-lhe o que mais precisava: a dinâmica, para ressaltar sua leveza inicial em contraponto ao seu peso hipnótico.

5. Cala-te ou fala algo que valha mais do que o silêncio. As colagens geniais e ácidas da loucura no cotidiano que nos hipnotizaram em Angel Dust estão de volta. Patton consegue em uma frase ser melhor que algumas bandas em suas carreiras inteiras.

6. Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás. A sonoridade das novas canções mostram uma banda que está ao mesmo tempo mais pesada e mais suave. Talvez os Pixies tenham inaugurado esse capítulo no Rock, mas certamente o Faith No More continua aperfeiçoando a fórmula.

7. Deixe um gostinho de quero mais. Os álbuns até o final da década de 80 normalmente tinham por volta de quarenta minutos - o limite técnico do vinil. Na virada da década, as bandas naturalmente ficaram seduzidas pela duração dobrada do CD e resolveram aumentar substancialmente a duração dos seus álbuns. Hoje o vinil está de volta, o CD foi praticamente sepultado e Sol Invictus tem a menor duração dentre os álbuns da era Patton. O fato é talvez propositalmente ele acaba rápido e isso não é exatamente ruim.

8. Dê mais uma chance para quem te fez feliz um dia. Aquele caso clássico do álbum que você começa a ouvir e não te conquista de primeira. Os amigos também começam a dizer que a banda não é mais a mesma, o mesmo blá blá blá de sempre. Você resolve ouvir os discos antigos e pensa: "sim, aquilo é que era bom de verdade", mas é só questão de tempo. Você vai acabar gostando - ou não.

9. Se resolver voltar, que seja de bom grado. Uma das minhas bandas favoritas resolveu voltar em 2004, mas lançou um disco com inéditas no ano passado que sinceramente - e infelizmente - não disse a que veio. Além do Pixies desde então ter passado por algumas mudanças de formação, o vocalista Black Francis quase sempre parece mal humorado nos shows, diferentemente do Faith No More, que tem demonstrado um astral muito legal desde o retorno da banda em 2009. Certamente essa harmonia está refletida em Sol Invictus.

10. Não julgue um livro pela capa. Os boatos iniciais sobre o álbum diziam que a banda mesclaria sons góticos à sua costumeira miscelânea musical. A foto acima, lançada no início do ano como um teaser do álbum, reforçava este fato, mas na prática as tais referências estão muito sutis, para não dizer nulas. Além disso, apesar da banda não se notabilizar por capas de álbuns memoráveis, esta é, de longe, a pior da história do Faith No More.