sábado, outubro 22, 2005

Os Emuladores dos Anos 80

É inegável que boa parte da safra de bandas dos últimos dois anos é a melhor desde o movimento grunge deflagrado no início da década de 90. Independente do fato de que praticamente nenhuma das bandas traz muita novidade ao cenário musical, pelo menos entre si as bandas têm personalidade, assim como as bandas da década de 80 possuíam. O inusitado desta nova safra é que parece que cada uma das bandas parece ter escolhido uma outra banda para emular - o termo começou a ser utilizado mais freqüentemente a partir da década de 90, para designar programas em PC que simulavam jogos de Atari, Nintendo e outros videogames da década de 80. Claro, sou suspeito para exaltar as virtudes da safra, ainda que roubadas, já que os anos 80 são uma das minhas "cachaças" preferidas.

Portanto, o Kaiser Chiefs é um Clash revisitado, o Interpol é o novo Joy Division, o Killers lembra um Fine Young Cannibals com menos soul e mais guitarra, no Bloc Party ouvimos ecos de Cure, o Hot Hot Heat bebe da fonte dos New Romantic - movimento do início da década de 80 que tinha como expoente máximo o Duran Duran - e o Franz Ferdinand, ligeiramente mais esquizofênico que os demais, mistura o groove do Blondie, o minimalismo do Devo e a raiva contida do Pixies, destacando-se como a melhor banda da safra, ou a cereja do bolo, como queiram...

Tudo bem, alguns irão dizer que é tudo cópia, outros que é inspiração com um pouquinho de transpiração, mas a verdade é que em vez de somente ter destilado bons ingredientes, a geração bem que podia ter usado um liquidificador, para tentar criar um sabor que, além de inegavelmente fresco, fosse também diferente.

sábado, outubro 08, 2005

Que venha a noite !

Revi recentemente o filme "Bring On The Night" do Sting, movido pelo seu relançamento em DVD. Não há muita novidade - apenas clipes da época e fotos pouco inspiradas - a não ser pelas legendas, que ajudam a conhecer melhor o corpo (e a alma!) do The Police. O filme retrata o nascimento do repertório moldado com a ajuda de músicos da escola jazzística para a sua primeira turnê solo. Aliás, uma boa parte das canções interpretadas nessa turnê derivaram do seu primeiro álbum, "The Dream Of The Blue Turtles", que inclusive foi indicado ao Grammy de melhor álbum de Jazz - segundo Sting, para o seu desespero e posterior alívio por não ter ganhado o prêmio! Aproveitando a deixa, o próprio acabou de tecer comentários interessantes no seu sítio sobre este álbum, aproveitando seu 20º aniversário de lançamento.

Pois já em 1985, o professor era pretensioso e arrogante - imagem talvez cristalizada hoje em dia - mas inimaginável na época em que eu ouvia o disco duplo e delirava com os arranjos "jazzy" das delícias pop de Sting. Até hoje acho uma perfeita porta de entrada para se entender o Fusion (mistura de Jazz e Rock), visto que acabei me enveredando pelos caminhos de Stanley Jordan, Chick Corea e Spyro Gyra, mas não consegui evoluir na paixão pelo gênero até hoje - John Coltrane e Dave Brubeck para mim ainda são como "one hit wonders", rótulo clássico daqueles artistas onde um único sucesso passa a ser sua referência musical. Portanto, virtuosismo para mim, só com muitas pitadas de Pop, como fez muito bem, por exemplo, o Rush, a partir da década de 80.

Voltando ao Sting, não sei se pela falta de inspiração ou pela vontade de se enveredar por projetos mais arriscados que os musicais, ele resolveu fundar a ONG Mata Virgem no Brasil para captar recursos a favor da causa do índios caiapós e da floresta amazônica, hoje chamada de Rainforest Foundation. Não discuto a nobreza do gesto, mas o fato é que paralelamente o cara acabou perdendo a noção do ridículo. O antropólogo e cientista Walter Alves Neves, que também atuou como assessor da ONG, resumiu bem a questão, em entrevista para a Folha em 2002: "O Sting tinha um coração de ouro, coitado, mas, na questão antropológica, ele só tinha dois neurônios".

Este comentário curioso vai de encontro com um fato inusitado que ocorreu comigo em meados de 1992. Estava eu no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro quando me deparei com um sujeito de boina quadriculada, tênis bamba, calça surrada, óculos escuros, branquelo e com pinta de gringo e que parecia estar na mesma situação que eu: esperando alguém.

Pois bem, depois de alguns minutos observando o "gajo", dei-me conta de que aquele era o Sting. Mas como podia estar tão mulambento alguém aparentemente tão pintoso e vaidoso? Enfim, num rompante de tietagem, consegui papel e caneta e me aproximei para pedir um simples autógrafo. Gastei o meu melhor inglês para pedi-lo delicadamente, mas não é que o cara foi super grosso comigo dizendo que não queria ser percebido ali - dava pra notar pelos trajes à fantasia - e que eu ia estragar tudo se ele embarcasse na minha tietada?

Diante dessa, saí de fininho - muito irado - e levei uns bons anos pra botar algum outro disco do cara na vitrola...

sábado, outubro 01, 2005

Aposentadoria do Katrina

Sempre fiquei intrigado com a nomenclatura dos furacões. Não entendia bem o porquê dos nomes nmuito menos o porquê da ordem alfabética em que eles apareciam. Independente da catástrofe que aconteceu em Nova Orleans, o interessante é que quando um determinado nome está associado a um furacão que deu origens a eventos altamente catastróficos, ele sai da lista de nomes, que se repete a cada seis anos. Há muitos anos atrás, órgãos governamentais associados com o monitoramento dos furacões estudaram aspectos comportamentais e chegaram a conclusão de que chamá-los pelo nome seria mais eficaz em momentos de evacuação ou durante alertas nos noticiários.

Ou seja, isso ainda não foi confirmado, mas certamente o nome Katrina será aposentado desta lista. Com relação ao Rita, não sei, mas acredito que ele dance também. Será que no ritmo de Katrina & The Waves, uma banda new wave inglesa, conhecida pelo sucesso "Walking On Sunshine"? Mais detalhes no site do NHC.

terça-feira, abril 05, 2005

Morte do Papa e Ressureição da Bizz

Já que a dita cuja ensaia voltar às bancas no formato e freqüência em que foi consagrada ainda este mês vou ressucitar um post que coloquei no Orkut há mais de sete meses atrás...

Acho muito saudável discutir sobre um produto que seja vendedor e vencedor, todo mundo com um mínimo de vivência no mundo corporativo sabe como isso é vital, mas acho que produtos podem ter nichos, vendendo pouco e sendo lucrativos. Especificamente neste caso, na minha humilde opinião de leigo, a sinergia de uma boa estrutura de uma agência de notícias facilitaria muito as coisas. Enfim, continuo sentindo falta de uma boa revista de música no Brasil com tudo o que vocês vem falando por aqui e muito mais.

Afinal, a Bizz era uma "puta" revista sim! Pelo menos para quem era adolescente/jovem adulto e gostava de música na década de 80/começo de 90... para outros segmentos tenho minhas dúvidas. O fato é que opiniões inteligentes - concordemos ou não - são sempre instigantes e elas - inclusive proferidas por muitos do que estão por aqui - apareciam de sobra na maioria do conteúdo da revista. Afinal, do que precisam adolescentes? Formadores de opinião! Adultos querem um pouco mais do que isso - talvez usar sua bagagem para captar menos informação e discutir mais...

Portanto, sobre mídias digitais, mesmo que as tenhamos inseridas em avançados "gadgets" portáteis, nada se compara (ainda) à sensação de ter uma bela revista nas mãos. Ao mesmo tempo, não consigo mais me imaginar sem a Internet e adicionando vejo que as mídias não devem ser concorrentes e sim complementares. Por mais que Londres tenha jornais duas vezes ao dia, nada físico se comparará a esta velocidade que experimentamos neste meio, sem falar na interatividade. Nada contra os blogs - eles existirão na medida em que as pessoas sintam necessidade de dizer algo consistente que ainda não foi dito - mas não é difícil separar o joio do trigo. Ainda assim, um blogueiro "medíocre" e egocêntrico pode dizer uma ou outra coisa brilhante ou mesmo interessante.

Isso me remete a um papo recorrente sobre o papel do editor. Tirando a parte científica do processo de edição, inegavelmente necessária, a parte lúdica, ou seja, o "feeling" sobre as capas vendedoras é que me tira do sério. Como já foi dito aqui, em princípio, é totalmente incongruente achar que a Britney possa ser capa dessa possível revista, entendendo os assuntos e a profundidade do que seria tratado por lá. Talvez a atriz Juliette Lewis que acabou de lançar um disco e quer abrir a turnê do Darkness fosse suficientemente instigante por ser inusitada e não subestimaria os leitores. Agora, se a Britney tem conteúdo a ponto de gerar uma pauta que não agrida mentes minimamente pensantes, mudo de idéia... mas capa, de graça, não!

Finalizando, acho que há muita vida inteligente na crônica e na crítica jornalística cultural, só não sei se há público suficiente(mente) interessado nisso a ponto de viabilizar a manutenção de uma publicação, mas ainda assim me pergunto o que faz uma Abril acreditar em nichos atendidos por PHT, Mundo Estranho e Witch e não nessa sonhada revista sobre música ou sei lá mais o quê. Respondendo à pergunta do tópico, devo dizer que leio muita coisa do que foi falado aqui, mas como ninguém comentou, gostaria de incluir as seções de cultura dos grandes jornais, que na medida do possível, talvez subconscientemente, tentam preencher lacunas assistindo aos órfãos da Bizz.

Publicado em 21/8/2004 no Orkut

segunda-feira, janeiro 31, 2005

Morrissey ao vivo em DVD !!!

Esse DVD tem chance real de sair por aqui e já que a chance do bardo inglês dar as caras por aqui é remotíssima, só nos resta torcer para que isso realmente ocorra e nós possamos nos deleitar com esse vídeo filmado num dos primeiros concertos da turnê de lançamento do "You Are The Quarry". Tenho ouvido - bem menos que gostaria - este e o último do Cure, lançados em maio do ano passado, e tenho achado o do Cure melhor - apesar dos singles deste álbum do Morrissey serem realmente imbatíveis...

sábado, janeiro 29, 2005

Guitarras do Dave Mustaine à venda !!!

Qual não foi minha surpresa, quando navegando na Internet me deparei com o líder do Megadeth vendendo suas últimas guitarras da Jackson, já que ele passou a ser patrocinado pela ESP a partir de 2004. Já vi leilões de instrumentos, mas uma apresentação em PowerPoint com várias guitarras à venda pelo próprio dono famoso foi a primeira vez. A mais barata sai por 13 mil dólares e a mais cara nem tem preço! Alguém se habilita?

terça-feira, janeiro 25, 2005

Os álbuns que eu tive... [Parte 8]

The Smiths - Meat Is Murder (1985)
Comprei o vinil em 1986 no Carrefour da Barra
Foi o primeiro deles que comprei, mas não gostei "de cara"... aliás, também foi o primeiro álbum deles lançado no Brasil, no começo de 1986 - se não estou enganado, o primeiro vinil foi o EP de "The Boy With The Thorn In His Side" - e como a Bizz falava horrores (delícias?) da banda resolvi arriscar. Esse álbum ficou encostado até Bigmouth Strikes Again estourar nas rádios no final de 1986 e eu comprar o The Queen Is Dead e ficar chapado... e logo depois disso passei a achá-lo uma obra prima - aliás, qual álbum deles não é?

Interessante é que na versão americana em CD deste álbum (essa adição de faixas extras em edições de bandas inglesas - geralmente singles não lançados nos EUA - era bem comum nos anos 80/90), há uma faixa que não figurava no vinil original, "How Soon Is Now?". Esta música revolucionou o feedback em riffs de guitarra na década de 80 de uma maneira tão definitiva a ponto de fazer o The Edge se esconder atrás da árvore de Joshua... e a música acabou sendo coverizada por algumas bandas. Em buraco de paca, t.A.T.u. caminha dentro? Certamente que não, pois definitivamente a versão deles ficou horrível. Mas a do Love Spit Love (que aparece nas trilhas sonoras da série Charmed e do filme The Craft) ficou muito legal! Nas covers de outras músicas, a do Placebo para "Bigmouth Strikes Again" também ficou boa. Já a do Divine Comedy para "There Is A Light Than Never Goes Out", acabou ficando meio arrastada demais.

Cocteau Twins - Blue Bell Knoll (1988)
Comprei o cassete em 1989 nas Lojas Americanas da Rua das Laranjeiras
Comprei esse álbum assim que ele saiu pela Stilleto, uma finada gravadora brasileira que só lançou discaços! Quase chorei quando ouvi "Carolyn's Fingers" pela primeira vez. Aliás, o som da banda é tão inusitado que é difícil imaginar que isso pudesse ser retratado ao vivo e principalmente por isso eu adoraria ter ido aos shows no Brasil, mas no dia do show do Imperator (antiga casa de shows no Méier, RJ e recentemente reinaugurada) eu estava no segundo período da faculdade e tinha prova de Física II, mas só me lembro que durante a prova eu fiquei me remoendo por saber que a Liz Frazer e os seus meninos estavam a poucos quilômetros do Maracanã e eu lá perdendo tempo enrolando porque não tinha estudado quase nada... pra piorar, acabei repetindo essa matéria! Enfim, algum tempo depois consegui um pirata de um show de 93 gravado em K7 cuja qualidade do som estava bem legal, revelando pra mim alguns dos mistérios de como essa fantástica banda conseguia reproduzir seus cânticos e timbres ao vivo!

Leo Jaime - Todo Amor (1995)
Comprei o CD em 1999 na Virtual Music do Shopping Santa Mônica (Ribeirão Preto)
Dizer que este disco marcou o meu segundo semestre de 99 não seria nada demais, mas o que dizer de um disco que tem composições de Caetano, Djavan, Cassiano, Lulu Santos, Cazuza, Antônio Cícero e Ângela Rô Rô? Que foi produzido por Fábio Fonseca (lembram do hit "Não me iluda, vou te esquecer, você me perturba sem perceber"?), Liminha, Lulu Santos e Memê? E se eu dissesse que praticamente todas as regravações (sim, são poucas inéditas) ficaram infinitamente superiores à todas as outras versões anteriormente gravadas, incluindo as originais! Pra completar, tem Leo na sua melhor forma, cantando e também compondo - e as duas canções contidas no álbum deixaram aquele gostinho de "quero mais coisas autorais".

Bem, esse disco tocou muito menos do que merecia nas rádios (apenas "Preciso dizer que te amo" tocou, e bastante), vendeu muito menos do que poderia e talvez tenha frustrado ainda mais um Leo Jaime que já havia tentado expor a sua veia mais romântica e não teve a aceitação que esperava (o disco em questão é o Vida Difícil, de 1987, já resenhado por esta singular figura que vos escreve). Mas não é por isso eu estou aqui gastando a minha saliva (seriam pixels?) para dizer que este disco é genial pelo seu requinte, sua leveza e a sua simplicidade, ao mesmo tempo. É um disco humilde. Paulinho da Viola talvez gostasse de um adjetivo como esse. Além disso, para mim, quanto mais auto-biográfico melhor. Neste álbum, algumas peças se encaixaram como uma luva, não antes porém sem revirar alguns sentimentos...

Algumas faixas vão se costurando e montando um quebra-cabeças de desilusões... a canção cuja frase dá nome ao título do álbum é simplesmente fabulosa: "Tola foi você ao me abandonar desprezando tanto amor que eu tinha a dar", "Começo" continua: "Eu não quero nem saber os motivos, o porquê de você querer partir", "Eu amo você" diz: "Toda vez que eu penso em te dar o meu amor - penso que não vai ser possível te conquistar". Encerram a questão a faixa "Infiel": "Eu te quero bem, só não vou me deixar levar e ter como meu guia, meu farol, o seu coração inconstante" e em "Extravios", a confissão: "Eu sei que os extravios são necessários sim, a necessária parte do meu caminho sozinho".

A outra colcha de retalhos, bem menos depressiva, porém não menos bonita e profunda, começa com Esse brilho em teu olhar: "Contigo eu me esparramo, não tem engano, não nem erro não". Para "Preciso dizer que te amo", quaisquer comentários se fazem desnecessários. "Outono" cunha frases lindas, tais como "Gostar é atual, além de ser tão bom"; "Minha mulher" martela um dos adjetivos mais bonitos dos últimos tempos: "meu bichinho bonito" e "Sete mil vezes" aprofunda: "Sete mil vezes eu tornaria a viver assim sempre contigo transando sob as estrelas". Romântico, apaixonado, sentimental, enfim, quem não é? Pois é. Esse disco superpotencializa as suas emoções. Vá fundo, mas tome cuidado, nem sempre é bom ficar chorando copiosamente pelos cantos...

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Os álbuns que eu tive... [Parte 7]


Ira! - Psicoacústica (1988)
Comprei o cassete em 1988 nas Lojas Brasileiras do Rio Sul
Que som alternativo é esse? Logo o Ira!, uma banda consagrada dos anos 80? Explica isso melhor...!!! Não uma "banda" alternativa, mas um "disco" alternativo, que não teve os louros de um "Vivendo e não aprendendo" (86), mas foi tão bom ou melhor do que o grande sucesso da carreira do Ira!... Lançado em 88, Psicoacústica surpreendeu pela sua inovação estética (quem não se lembra dos óculos 3D encartados no vinil e os grandes efeitos que se tinha ao visualizar a capa super psicodélica... quem comprou o K7, como eu, ganhava uma faixa a mais, mas acabava tendo que ir na casa dos amigos para "sacar" a capa...) e pela fusão de elementos percussivos e rap com o rock básico, onde o vocalista Nasi e o baterista Andre flertaram ainda durante um bom tempo, inclusive participando de discos de rappers como Thaíde & DJ Hum.

Rubro Zorro abre o álbum com ecos de vozes quase inaudíveis, porém irascíveis; a guitarra raivosa, o banjo e a craviola quase barrocos de Edgard já sobressaem desde os primeiros acordes e a cozinha segura o tranco, enquanto o vocalista exalta a necessidade do herói: "No asfalto quente, o crime é o que arde/Bandidos estão vindo de toda parte"; e a pancada continua: "É na cabeça... seu poder racional...". Passamos a ouvir, logo após, um coral "gospel", provavelmente uma referência explícita das missas, instituições das Manhãs de Domingo, quando abruptamente, voilà: rock ! A distorção quase psicodélica das guitarras, a letra descritiva, a agitação (contida) reflete bem o que são estas manhãs: "Sua cabeça está noutro lugar/Parece que realmente a noite valeu a pena"... Poder, Sorriso, Fama vem com uma levada mais calma, mas não menos empolgante, com uma batida bem cadenciada. Um clássico: Receita para se fazer um herói... Edgard novalmente prima pela sua sutileza nas cordas, o arranjo primoroso da cama de instrumentos, incluindo os sopros que antecedem um final triunfante; as palavras ditas por Nasi mereceriam um capítulo à parte: "Pega-se um homem, feito de nada, como nós... serve-se morto". Não pague pra ver (ao vivo), lembra a primeira fase do Ira!, mais básica, mas pungente e empolgante. A captura destes momentos únicos (afinal, os shows do Ira! eram memoráveis) sempre foi extremamente bem-vinda e felizmente, bem capitalizada pela banda. Ouvir "A sensação de ver meu corpo entrando no seu/Agora quero matar saudade/Moça, não pague pra ver" é quase sentir os holofotes do palco... Pegue essa arma, uma aula de baixo (grande Gaspa), percussão (fala, Jung!), o Edgard crava um solo indescritível (afinal, normal...) além de duelar no vocal com Nasi... e como em Rubro Zorro, ouvimos quase gritos, ecos: "O terceiro mundo vai explodir/Quem tiver de sapato não sobra". Uma intensidade sonora como pano de fundo para uma letra que retrata o título; situações de opressão, medo... Deleite-se! Farto do Rock'n'Roll é quase uma grande brincadeira, um riff magnífico (rockeiro, claro...) e a intenção de fundir ritmos, insatisfação com o 4x4 e o baixo-bateria-guitarra, a certeza de que o mesmo Rock'n'Roll é o caminho... andando em voltas: "Eu fico tentando me satisfazer/Com outros sons, outras batidas, outras pulsações... Então eu faço como os outros e vou assistir ao show", fantástica... Um pandeiro, um berimbau? Advogado do Diabo é uma puta sacação... o baixo quase sombrio, Scandurra solando magistralmente, a percussão segura a onda "jongo" da música e Nasi detona em um slow Rap: "Atire a pedra no pequeno/Mas um dia você vai se queimar". Mesmo Distante reafirma a veia romântica do Ira!, porém lembrando as viagens dos Beatles/Mutantes; muitos efeitos, distorções, microfonias, um vocal grave e quase rouco, violões de aço, um trabalho percussivo criativo, clima de fechamento...
Leia também uma ótima crítica sobre este álbum no ótimo site SenhorF

Leo Jaime - Vida Difícil (1986)
Comprei o cassete em 1987 na Sears da Praia de Botafogo
"Um disco comportado do Leo Jaime", foi o que ouvi de alguém naquele verão de 87 sobre "Vida Difícil", mas uma leve audição mostrava que ele era muito mais do que isso... É claro que se não houvessem alguns escrachos regulamentares, não seria o Leo Jaime, mas chamaria de sedimentação (bem diferente de "amadurecimento"...) o que esse álbum trouxe. As influências estão claras, mas os samples funcionam todos quase que como homenagens aos originais.

Nada mudou é a primeira canção do álbum, trilha sonora perfeita para um passeio numa tarde de domingo, a letra quase visionária que continua atual depois de quase 12 anos !!! "Crianças pedem na janela do carro até nas noites de Natal", crítica ferina do cotidiano e um big solo do homônimo Gandelman. O requinte dos arranjos continua em Briga, um rockão com o auxílio luxuoso dos Paralamas, Liminha e Nico Resende, grande letra dizendo que "Você podia ser um grande romance/Eu te dei muita chance/Você nem quis tentar", solo 10 de Herbert e um final apoteótico: "Eu tenho raiva, oh yeah !". Contos de fada tem um ligeiro clima soul, com muitos metais e teclado, um Pop setentista com um texto quase dramático: "Até que um dia eu pude descobrir/Que eu não nasci pra ser a sua fantasia" enquanto Prisioneiro do futuro retoma o clima Rock do álbum (novamente trazendo alguns Paralamas), muito embora os solos de sax tendam mais para o Jazz (Sting em Bring on the Night?), Leo canta de maneira cool: "Tudo tem dentro de si o seu contrário/O ódio veio da fraternidade". Amor também traz um clima Soul (Porque não?), uma letra "leve" (não confundir com brega): "E a chama do amor/A todo mundo/A toda hora/Em você e em mim" e um arranjo com o charme habitual de Hyldon ou Cassiano, autor da próxima faixa, A Lua e Eu; Leo tem essa habilidade (como poucos) de transformar com sutileza músicas de outros autores em versões quase sempre superiores às originais.

Os bonitos solos de violão de Sérgio Serra (ex-Ultraje) deixam a melodia ainda mais requintada. Sem futuro tem uma levada bem Santana, porém muito melhor e com muito mais suingue e punch, enquanto a letra pessimista declama: "Alguém fabrica as bombas e os decretos/Depois consegue dormir" e a faixa seguinte comprova o que já foi dito; Mensagem de amor, de Herbert Vianna (com a canja do próprio), fica ainda melhor que a original, com Leo Gandelman mais uma vez arrasando no bom gosto dos solos, além do arranjo sublime. Vida difícil vem com um clima intimista, apesar da Big Band com muitos metais, e um arranjo meio Bluesy, meio down, apesar de já começar a mostrar as características marcantes de Leo, até então muito sutis, começando pelo humor negro: "Acordo assustado, caindo da cama/Eu olho pro lado e a minha namorada sumiu", continuando em Um telefone é muito pouco, melodia com uma levada quase caribenha (com um bongô e um surdão marcando o ritmo). Fechando o disco, Cobra venenosa é um escracho total, escrita e cantada em parceria com um dos miquinhos, Selvagem Big Abreu (afinal, Leo foi um deles um dia); uma marchinha muito bem humorada com as já esperadas expressões de duplo sentido: "Eu sou uma cobra venenosa/Que pica, que pica/E tenho dois dentinhos afiados/Que picam, que picam", deixando claro ao ouvinte que Leo não é tão fácil assim de ser definido ou rotulado...

Finis Africæ - Finis Africæ (1987)
Comprei o cassete em 1987 numa loja no início da Rua das Laranjeiras
Uma banda realmente estranha... Veio do "boom" de bandas novas de Brasília, todas aparentemente parecidas, mas com sutis diferenças. De todas, foi a única que utilizou elementos de samba -através de sacações geniais, diga-se de passagem. Foram estas mesmas "sutis" diferenças que tornaram a banda pouco "digerível" pelo público e crítica: a mistura entre o pós-punk e o funk (neste ítem, herdeiros do Clash); as letras muito abstratas (característica das mesmas bandas pós-punk) e uma certa ingenuidade no trato com o show-biz. Começaram com duas faixas na coletânea "Rumores", arrancando elogios da crítica do eixo Rio-São Paulo. Depois, o amadurecimento prosseguiu através da entrada de Eduardo de Moraes nos vocais e o lançamento de um EP independente, lançado pela Sebo do Disco, que foi o trampolim para a EMI-Odeon, onde gravaram seu único LP, produzido por Mayrton Bahia (Legião Urbana, entre outros).

Abrindo com Deus Ateu, tem-se um trumpete gritando, um baixo estalando e a voz de Eduardo clamando: "Deus deve ser ateu/Ou então ele está morto/Ou então se esqueceu/De orar pelo teu corpo". O final apoteótico contempla um festival de agogôs, tamborins, ganzás, cuícas e repiniques, fundindo o funk ao samba de maneira magistral, enquanto Ronaldo comanda a orquestra com um apito gutural. Segue-se Vícios, grande baixo (ecos de Peter Hook?), super letra: "Caindo no abismo/Entendendo essa vida de vícios que me fazem pensar em você" e uma cuíca chorando. Vem Chiclete, explicando o quão tediosa pode ser a sua vida e então, o êxtase: Mentiras, abusando da fórmula mágica: Neto debulhando seu baixo; palavras profundas: "Você não vai destruir os meus planos/Tudo o que sonhamos não importa mais/Escondemos o medo pra sobreviver/Mais um dia ou um ano, o tempo nada faz", interpretação contundente do "crooner" que sempre me faz ensaiar algumas lágrimas... A última do lado A continua sedimentando o estilo depressivo da banda. Depois, Ask the Dust, seguramente uma das melhores do disco. A voz rouca de Eduardo diz que "Roubaram as flores do meu reino/Roseiros murcharam no jardim/As dores aumentam no meu peito/Teus olhos são tão cruéis pra mim", enquanto Neto estraçalha no baixo, sempre criativo, inventivo e contagiante. Ronaldo segurando a marcação com muita categoria e emendando com Deserto, clima deprê: "Tenho medo de te ouvir/Você vem me contar/Teus amores me fazem rir/E por dentro desabar". O grande hit do disco, Armadilha, uma guitarrinha "cool" e atabaques em contraponto à bateria, dando um tom incomum à música, que é atropelada por Máquinas, outra maravilhosa melodia, grande clima, teclado pontuando pérolas: "Nosso suor se misturou demais/Em pensamentos indefesos". Círculos começa quieta e vai, aos poucos, se enraivescendo, baixo nervoso, vocal gritado, bateria forte, guitarra pungente, teclado obscuro: "Vivendo em círculos circuncêntricos/Círculos excêntricos/Palhaços, prostitutas, putas/Passam pelas ruas" e Inferno, um funk introspectivo, fecha o álbum com a categoria peculiar: "Estamos sós e nos distanciamos/Esperando um futuro que não acreditamos/Construímos um muro através do tempo".

Crônicas escritas originalmente em 98, com exceção da última, escrita em 89.

sábado, janeiro 15, 2005

Morrissey ou Smiths?

Morrissey é melhor que Smiths, mas é inegável que o Johnny Marr faz uma falta... Ainda mais porque ele não conseguiu fazer nada que prestasse depois dos Smiths. O Matt Johnson ("o homem" do The The) até fez um disco legal com ele, "Mind Bomb", mas vi pouco do Marr lá, até a Sinèad O'Connor cantando em uma faixa tem uma aparição mais representetiva; o "Packed" do Pretenders é considerado o álbum mais xarope e obscuro da carreira até pela Chrissie e até mesmo na única composição deles, "When Will I See You", não se ouve nenhum riff que preste [este humilde blog já resenhou este álbum - leia mais aqui sobre ele]; no Electronic, as bases e os solos poderiam muito bem ter sido feitas pelo Bernard Sumner, de tão simplórias; e parei de tentar por aí... nem ouvi o tal do Healers, mas parece ser outro xarope. Enfim, isso prova que o Marr que admiramos tanto só existiu porque o Morrissey estava lá; portanto o Smiths nunca poderia ser mais importante.


Certamente bem menos importante, mas bastante sinistro, é o relato de David Alice, que traça um paralelo entre a morte da Princesa Diana e as letras de Morrissey, The Diana-Morrissey Phenomenon, afirmando que o letrista foi profético e que a morte da Lady Di já estava anunciada "nos mínimos detalhes", e bem antes do romance com o dono da Harrods começar!

sábado, janeiro 08, 2005

Almanaque Anos 80

É leitura obrigatória pra quem viveu esses anos muito animados, que até hoje não foram superados pelas décadas seguintes. Mariana Claudino e Luiz André Alzer foram brilhantes na tarefa de extrair memórias à fórceps - ou seja, aquelas coisas que nunca poderíamos imaginar que ainda estavam armazenadas no nosso HD... Eu costumo exercitar bastante a minha memória trazendo lembranças daqueles tempos - e esse blog é uma das mais fortes expressões desse exercício constante - mas eles me pegaram de jeito. Parabéns!

Pegando uma carona no assunto, lembrei como era difícil conseguir discos importados nos idos dos anos 80 - acho até que já falei isso aqui, mas se falei, paciência, é porque isso realmente marcou muito a nossa geração mesmo - e os do Cure, principalmente, ralei muito pra conseguir os anteriores ao The Top, pois nessa época os CDs ainda não existiam e conseguir vinil importado era coisa para muito poucos... no Rio, só mesmo na Modern Sound em Copacabana e quando apareciam, custavam de três a cinco vezes o preço de um vinil nacional. Acabei conseguindo uns K7s argentinos, já que lá todos os antigões já tinham saído.

Isso já tem mais a ver com a década de 90, mas pra corroborar a paixão, o meu primeiro CD também foi um single do Cure, Just Like Heaven, importado e usado, uns 8 meses antes de comprar o meu aparelho no natal de 92!

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Caetano Veloso e o futuro

Minha empolgação tresloucada com o Caê parou no "Livro", seu álbum de 1996, que acho fenomenal. Mas ainda assim considero o "Noites do Norte" (1999) um ótimo disco, com um mergulho interessante nas sonoridades e temáticas negras/africanas e um flerte com o rock rasgado. "Cobra Coral", "Meu Rio" e "Tempestades Solares" poderiam ser incluídas nas suas melhores safras e "Zera A Reza" e "Zumbi" são bons mantras.

Estes elementos ficaram mais latentes no registro da turnê ao vivo, onde Haiti ficou super minimalista e densa, apesar de ter-se abusado um pouco desta fórmula inclusive gerando estranheza ao fazer um contraponto explícito com o eruditismo do Jacques. Os tambores também estavam presentes, mas aqui nada de novo, pois em "Circuladô Vivo" (1993), por exemplo, eles também apareciam - e mais fortes. Abusou também da estrutura do "Prenda Minha" (1998) - um olhar mais focado na música popular (populista?) - e as duas tentativas de reprise de "Sozinho" ("Mimar Você" e "Magrelinha") saíram pela culatra (Mais detalhes sobre esse álbum no post anterior).

O disco com o Mautner pra mim tem gosto de recreio. Não acrescenta quase nada à trajetória do baiano e a boa verborragia não se sustenta na parte instrumental - e neste ponto exato a meu ver a criatividade do flerte com a geração do Moreno parece iniciar a se esgotar - apesar da boa intervenção do Jacobina.

O sentimento da entressafra se aguça com a chegada do álbum com as canções americanas. Apesar de um projeto antigo, a execução - e principalmente o repertório – deixaram a desejar. E se a porção intérprete de Caetano tenta manter o nível de qualidade das suas produções, a homenagem à cultura latina em "Fina Estampa" rendeu frutos muito mais saborosos. Desde uma releitura primorosa de uma das composições mais belas do quase-anônimo-no-Brasil-até-então Fito Paez até quase-clichês como "Contigo En La Distancia", o sentimento de frescor do projeto como um todo era latente - e magistralmente interpretado, diga-se de passagem. "A Foreign Sound" nasceu velho, passado, datado.

Portanto, acredito que, passada a entressafra, veremos um grande disco de Caetano. Pois se nas décadas de 70 e 80 os discos eram anuais, não passavam de 8 ou 9 faixas e as turnês tinham duração de não mais que 5 meses, a década de 90 trouxe consigo uma nova maneira de fazer música. Que aceitemos e possamos acreditar que ainda nos deleitaremos como sempre (ou como nunca!).

terça-feira, janeiro 04, 2005

Caetano Veloso e o passado

Pra mim, a última novidade relevante do Caê veio de 2002. Ou seria de 1978? Trata-se de um show histórico realizado nesta época no Teatro Carlos Gomes, no lançamento do álbum "Bicho", onde Caetano foi acompanhado pela histórica Banda Black Rio. Essa gravação foi incluída na "impossível" caixa (1000 reais é dose!) com toda a discografia do mestre remasterizada pelo Charles Gavin, "Todo Caetano", lançada no final de 2002, mas só pude "pescá-la" na Internet há uns seis meses atrás. Para mim foi mais uma constatação de que a voz de Caetano era muito mais solta (ou sem freios?) e é evidente que ao longo dos anos ele passou a cantar muito melhor. O auxílio luxuoso da Banda Black Rio nos arranjos das músicas, os tornam quase irreconhecíveis e com uma verve samba-jazz, dão um novo sabor a clássicos como "Odara", "London, London" e "Alegria, Alegria". Além destes e alguns outros sucessos de Caê, temos várias músicas instrumentais chiquérrimas: "Maria Fumaça" e "Leblon Via Vaz Lobo", da BBR e algumas músicas nordestinas, como "Na Baixa Do Sapateiro", de Ary Barroso (gravada por Caetano em 96 no álbum "Livro") e "Baião", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

Transa (1972) e Jóia (1975)
Eu achava os dois álbuns bem esquisitos há 13 anos atrás, mas hoje sinceramente acho que são bons discos. Com altos e baixos - como quase todos os discos dele até 77 - mas com jóias como You don’t know me, Nine out of ten, Mora na filosofia, Minha mulher, Lua lua lua lua e Canto do povo de um lugar. Já o Araçá Azul, de 1973, até hoje é dose de agüentar...

Aproveitando a carona, reproduzo a seguir uma resenha escrita originalmente em 08/06/2001

Noites Do Norte Ao Vivo (2000)
O espetáculo prometia radicalizar as experiências sonoras que marcaram a turnê anterior, “Livro Vivo”, que deo origem ao CD/DVD "Prenda Minha" (1998). Porém, Caetano teria dito ao violoncelista Jaques Morelenbaum que este show talvez não fosse tão interessante para ele como trabalho musical. “Mas Jaquinho não achou isso, fiquei honradíssimo de ele querer tocar comigo mais uma vez”, disse Caetano.

Apesar da filosofia do álbum “Noites do Norte”, que evoca ritmos africanos e uma dialética essencialmente associada à história do negro no Brasil, incluindo pensamentos do abolicionista Joaquim Nabuco, tais como “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”, incluído na faixa-título, o show traz algumas poucas canções que poderiam estar associadas com este conceito. “Zera A Reza”, “Cantiga De Boi” e sua versão de “Zumbi”, de Jorge Benjor, são alguns raros exemplos.

Na verdade, o aclamado “radicalismo sem virtuosismo” é seguido à risca por Caetano e seus músicos, que incluem, além do famigerado Jaques, os quase “teenagers” Davi Moraes e Pedro Sá levando as outras cordas (guitarras, baixo e bandolim) e cinco percussionistas, incluindo o ótimo (também baterista) Cesinha. Atirando para todos os lados, o tiro de Caetano sai, de fato, pela culatra. As músicas mais autorais (e menos conceituais) do CD (como “Tempestades Solares” ou “Cobra Coral”) perdem-se na estrutura do show, que privilegia a verve “pop” e “bossanovista” de Caetano, não abandonando a sua particular visão histórica de “quase clássicos” que sempre emociona.

Em algumas músicas a forte percussão chega a ofuscar o brilho da voz de Caetano; os minimalistas Davi Moraes e Pedro Sá deixam quase sempre as canções vazias e só acertam a mão roqueira nas músicas com uma verve mais simplista, como “Tropicália”, “Rock‘n’Raul”, “Haiti” e “Língua”. Até na sessão “banquinho, voz e violão”, Caetano bate na trave. “Araçá Azul”, apesar de agradável, está muito abaixo da média das composições do baiano. Por outro lado, a global “Samba de Verão” e a indefectível já-ouvimos-mais-de-12.345.657-vezes “Sozinho”, são, de fato, totalmente dispensáveis.

Na linha dos maiores sucessos, as fáceis “Nosso Estranho Amor”, “Tigresa” e “O Leãozinho” banalizam o set, que poderia ser salvo com a belíssima “Dom De Iludir”, mas que é contaminada no final ao ser arrematada com o “Funk do Tapinha”. Entretanto, “Magrelinha” (Luiz Melodia) é uma séria candidata a “Sozinho II, A Missão” e “O Último Romântico” (Lulu Santos) acompanhada somente pelo violoncelo têm muitas chances de tocar no rádio, sim.

Apesar de algumas distorções (literais ou não), nunca é demais ver o mestre Caetano (à beira dos sessenta!) tentando – e conseguindo – continuar a ser o sopro de leveza, maestria, técnica, criatividade e ousadia, que o tornou a estrela-mor da música brasileira (e mundial, por que não?).

domingo, janeiro 02, 2005

Que banda levar para uma ilha deserta?


A cada dia tenho mais certeza de que o Cure é a banda pra se levar pra uma ilha deserta. O MTV Icon deles, que é citado no post anterior e felizmente foi veiculado aqui no Brasil no último dia 30 de dezembro, é a maior prova disso. Um monte de gente legal (e eclética!) reconhecendo os maiores atributos da banda foi muito bonito de se ver. Um post que prometo que farei poderá explicar um pouco melhor os porquês, descrevendo cada uma das músicas que iniciam cada disco do Cure: diferentes entre si e igualmente especiais. Aliás, o último álbum deles melhora a cada audição e a música de abertura, "Lost", é uma pancada só...

Vou aproveitar a carona pra falar do Wild Mood Swings, lançado em 96... dignos de menção nesse álbum são a Produção, o Jason e a Heterogeneidade. Concordo com muito do que sempre se falou sobre o WMS, realmente o Jason é muito fraco (ele quase estraga o Pornography no Trilogy!), a produção podia ter aparado algumas arestas, mas o fato dele ser extremamente heterogêneo, para mim, é o seu charme. Pra falar a verdade, quando ouço, raramente penso em pular alguma música desse álbum. Na última vez que ouvi, o que me saltou aos olhos foi a ousadia de colocar metais em várias faixas, pois a ótima voz do Robert e a as letras aguçadas não são novidade... No mais, acho que 8 é uma nota justa.