quarta-feira, janeiro 05, 2005

Caetano Veloso e o futuro

Minha empolgação tresloucada com o Caê parou no "Livro", seu álbum de 1996, que acho fenomenal. Mas ainda assim considero o "Noites do Norte" (1999) um ótimo disco, com um mergulho interessante nas sonoridades e temáticas negras/africanas e um flerte com o rock rasgado. "Cobra Coral", "Meu Rio" e "Tempestades Solares" poderiam ser incluídas nas suas melhores safras e "Zera A Reza" e "Zumbi" são bons mantras.

Estes elementos ficaram mais latentes no registro da turnê ao vivo, onde Haiti ficou super minimalista e densa, apesar de ter-se abusado um pouco desta fórmula inclusive gerando estranheza ao fazer um contraponto explícito com o eruditismo do Jacques. Os tambores também estavam presentes, mas aqui nada de novo, pois em "Circuladô Vivo" (1993), por exemplo, eles também apareciam - e mais fortes. Abusou também da estrutura do "Prenda Minha" (1998) - um olhar mais focado na música popular (populista?) - e as duas tentativas de reprise de "Sozinho" ("Mimar Você" e "Magrelinha") saíram pela culatra (Mais detalhes sobre esse álbum no post anterior).

O disco com o Mautner pra mim tem gosto de recreio. Não acrescenta quase nada à trajetória do baiano e a boa verborragia não se sustenta na parte instrumental - e neste ponto exato a meu ver a criatividade do flerte com a geração do Moreno parece iniciar a se esgotar - apesar da boa intervenção do Jacobina.

O sentimento da entressafra se aguça com a chegada do álbum com as canções americanas. Apesar de um projeto antigo, a execução - e principalmente o repertório – deixaram a desejar. E se a porção intérprete de Caetano tenta manter o nível de qualidade das suas produções, a homenagem à cultura latina em "Fina Estampa" rendeu frutos muito mais saborosos. Desde uma releitura primorosa de uma das composições mais belas do quase-anônimo-no-Brasil-até-então Fito Paez até quase-clichês como "Contigo En La Distancia", o sentimento de frescor do projeto como um todo era latente - e magistralmente interpretado, diga-se de passagem. "A Foreign Sound" nasceu velho, passado, datado.

Portanto, acredito que, passada a entressafra, veremos um grande disco de Caetano. Pois se nas décadas de 70 e 80 os discos eram anuais, não passavam de 8 ou 9 faixas e as turnês tinham duração de não mais que 5 meses, a década de 90 trouxe consigo uma nova maneira de fazer música. Que aceitemos e possamos acreditar que ainda nos deleitaremos como sempre (ou como nunca!).

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