sábado, abril 01, 2000

A Chuva e a Saudade

Nunca imaginei que a chuva e a saudade pudessem ser tão parecidas. Na verdade, a semelhança entre as duas vem muito mais de uma constatação engendrada durante anos, proveniente de uma relação de amor e ódio, do que uma associação direta e impessoal.

"O prenúncio da aparição da chuva já causa uma sensação esquisita, algo próximo da indignação. Infelizmente, na maioria das vezes, a chuva vem sem avisar. E quando a chuva finalmente começa, é uma tristeza só. Uma letargia toma conta do corpo, e aquelas decisões mais enérgicas como ‘vou enfrentar a chuva!’, ou ‘vou me conformar com a chuva...’ ficam postergadas até um momento mais sensato. Que não tarda.

De estático passo a conformado. Sinto que a chuva pode nunca acabar e começo a imaginar formas de conviver com ela. ‘Aceitar sempre, render-se jamais’ é a única frase que aparece na minha mente. Porém, quando finalmente parecemos estar gostando da idéia de aceitar a chuva e tentar tirar dela o que há de bom, muitas vezes a chuva aperta e deixa o corpo frio, mais uma vez ávido por uma mudança de estado.

Enfrento a chuva. Respiro fundo e saio para a rua, onde a chuva inunda o meu corpo incontestavelmente. Depois de algum tempo, embriagado pela chuva, reconheço que "ter enfrentado fora o melhor remédio". O corpo fica quente, se anima, e finalmente revive. Pede por mais algumas gotas de chuva. Sem remorso de ter enfrentado a chuva, fico satisfeito por ter ido fundo e vivido a emoção de reconhecer que aquela depressão que se instalou não podia mesmo ser levada a sério e que a chuva merecia, no mínimo, respeito.

Enfim, após algum tempo, a chuva acaba, e lá no fundo, sinto que até tenho saudade da chuva!"

Bom, agora leia o texto entre aspas de novo e troque todas as palavras "chuva" por "saudade" e veja se continua fazendo sentido...

Agora faz mais sentido ainda???

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