sexta-feira, abril 02, 1999

Um carioca em SP

A vida anda um tédio? Nada pra fazer no fim-de-semana a não ser ir à praia, passear com o cachorro e navegar pela Internet? Pois é, viver no Rio de Janeiro nos últimos meses tem se tornado uma tarefa árdua...

Eis a solução: 24 horas em São Paulo! "Argh, eca, epa: qualé, mermão? Tá me estranhando? Tué carioca mermo? SP nem pensar, a cidade é legal, mas é cheia de paulista, meu..." :-)

Na boa, tem muita coisa legal pra se fazer em SP; durante um dia dá pra se divertir bastante e de quebra a gente aprende de uma vez por todas a respeitar e admirar nossos vizinhos... Bom, agora que você já está aceitando melhor a idéia, vamos ao que interessa!

Saia do Rio num sábado em torno de 12h. Vá de ônibus ou carro. Sei que a viagem é chata (pacas), mas leve uns livros legais, aquelas fitas que você não ouve há tempos e, muito importante, papel e caneta. Afinal, se pintar inspiração, você pode rascunhar aquele trabalho para a semana ou escrever um roteiro ainda melhor que este!

Chegando lá por volta de 18h, ter um mapa da cidade é fundamental. Se você estiver a pé, o metrô é um capítulo à parte: não é de mentirinha! Funciona (inclusive aos domingos), os trens não demoram mais do que 2 minutos pra passar e te levam pra um bando de lugares! Comece indo para um shopping, afinal, você quer ou não sentir-se como um paulistano? Uma opção é o Paulista (mais ou menos na altura da Brigadeiro), perto da Estação Paraíso. Outra é o West Plaza (Francisco Matarazzo, em Perdizes), perto da Estação Barra Funda. Aproveite, coma alguma coisa (afinal, parada de estrada é a morte!), fique atento aos preços das promoções e preste atenção no jeito e no sotaque dos "nativos". Não ria na hora, mas sim na segunda... sempre levando na esportiva (claro!). Você vai se surpreender quando ouvir, por exemplo, "chôvendo", e pensar: ué, mas se vem de chuva, não é "chuvendo"? :-))

É claro que a recíproca é verdadeira, eles podem dizer que vem do verbo chover, mas isso a gente deixa pra lá...

Próxima parada: 21h, tomar a melhor batida do Brasil no Cu do Padre (Padre Carvalho com Campo Alegre, em Pinheiros), perto do Largo do Batata (Teodoro Sampaio com Faria Lima). Cult é muito pouco... Freqüentado por todo o tipo de gente, o visual cavernoso atrai pela autenticidade. Um velhinho gente boníssima prepara os drinks fazendo malabarismos com gelos, canudos e garrafas e não cobra couvert artístico! As batidas são tão suaves que você fica se perguntando onde ele escondeu todo o álcool que você viu que ele colocou ali... A grande pedida é o Cocorango (Coco com morango), simplesmente irresistível. Entre no clima e fique pelo menos uma hora apreciando o local.

Depois de algumas batidas, vamos à night... Existem várias boas opções: KVA, com shows interessantes (Lenine, Biohazard, etc.), Dado Bier (point fervilhante da mauriçada da paulicéia), B.A.S.E. e Floresta (Techno), enfim, compre um dos jornais locais e faça um uni-duni-tê...

No Domingo, acorde cedo, por volta das 10h e rume para a Feira da Liberdade (Praça da Liberdade), na Estação Liberdade. Delicie-se com as inusitadas barraquinhas de comida, onde pode-se encontrar desde óbvios sushis até "legítimos" acarajés. Não deixe de provar o bolinho de doce de feijão (que tem um nome esquisito e muito grande), e principalmente observe a sua técnica de preparo (é melhor até do que comê-lo, diga-se de passagem); aprecie os origamis e ikebanas; e não resista à tentação de trazer um Bonsai (a partir de R$ 5) e uma luminária sanfonada oriental (de R$ 5 a 10). Você quase vai pensar que acordou do outro lado do mundo, porque até o McDonald's tem letreiros em japonês!

Lá pelas 12h, vá para a Feira de Antigüidades do Bixiga (13 de Maio, na Bela Vista), perto da Estação Brigadeiro. Vai ser engraçado tentar entender como tem gente que compra cada coisa... inclusive, se você tiver algo velho e estranho e quiser trocar, há grande possibilidade de fazer negócio. Mas, falando sério, tem muita história embutida nas tendas; vale a pena conhecê-las. Por exemplo, se você gosta de chapéus, uma barraca em especial tem alguns muito bonitos, da época da Revolução Russa.

A fome já deve estar apertando e as opções são muitas, mas uma cantina em especial chama a atenção: Mamma D'oro, em frente à Feira. Um grupo interpreta chorinhos, clássicos da MPB e o cancioneiro italiano, lógico. O melhor é que de vez em quando alguns tenores e sopranos estão "escondidos" por entre as mesas, e resolvem vez ou outra dar uma canja. Depois de um Filé ao Funghi Secchi, você descobrirá que fez a viagem mais indolor da sua vida (Japão - Itália em 40 minutos!!!).

Para facilitar a digestão, vá andando até a Feira de Artes Trianon, em frente ao Parque Siqueira Campos, e familiarize-se com o ar cosmopolita da Avenida Paulista, a "espinha dorsal" da cidade, enfim, de onde quase tudo converge. É uma "mini feira hippie", inclusive com algumas barracas de doces caseiros e tradicionais. Um dos trabalhos mais interessantes é uma série de posters montados com clips coloridos de plástico (?!?). O Homem-aranha, com aproximadamente 1,5 x 1,0 m, é pra lá de cool.

Atravesse a rua, e dê uma olhadinha na Feira de Antigüidades do MASP (embaixo do MASP). Com um enfoque um pouco diferente da feira do Bixiga, vale a pena visitá-la pelo aspecto comparativo (inevitável), visto que esta é um pouco mais "requintada".

Se depois desta jornada, estiver faminto, vá ao Arby's (Av. Paulista, 1904) e conheça a menina dos olhos do fast food da cidade. Sanduíches de Pão de Batata com Rosbife e uma batata frita diferente chamada Curly, temperada e em formato de rabo de porco (?!?). Maravilha !!!

Já devem ser lá pelas 6 da tarde de domingo e, se deu vontade de voltar pra conhecer o Memorial da América Latina, o MAM, o MASP e até a Bienal, a minha missão foi cumprida com louvor. Se não, você certamente sentiu-se um cidadão do mundo a 400 km de casa, e tem coisa melhor do que isso?

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